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Microplásticos no cérebro

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Estudo encontra microplástico em cérebros

Escrito por: Elessandra Asevedo

A poluição por microplásticos é uma preocupação ambiental e de saúde emergente, levantando dúvidas sobre os potenciais efeitos neurotóxicos aos seres humanos e os mecanismos pelos quais esses microplásticos podem atingir tecidos cerebrais. Embora tenham sido detectados em vários órgãos do corpo humano, como pulmões, intestinos, fígado e até da corrente sanguínea, não havia estudos relatando a presença de microplásticos no cérebro. Por isso, um grupo de pesquisa da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) resolveu investigar o tema.

Para determinar a presença de microplásticos no bulbo olfatório humano e analisar características como tamanho, morfologia, cor e composição polimérica, o grupo analisou o cérebro de pessoas falecidas que moravam em São Paulo. O estudo foi feito em parceria com a Universidade Livre de Berlim, na Alemanha, e com o apoio do Laboratório Nacional de Luz  Síncrotron (LNLS), em Campinas (SP).

De acordo com a líder do trabalho e docente da FMUSP, Thais Mauad, foi implementada uma abordagem sem plástico, tanto para o controle e a garantia de qualidade e avaliação do processamento de amostras quanto para proteger a integridade dos resultados. “Essa estratégia facilitou uma avaliação completa de potenciais fontes de variabilidade e erro aumentando, assim, a confiabilidade dos dados coletados”, explica.

A pesquisadora ressalta que a presença da barreira hematoencefálica é um fator limitante importante para o acesso de microplásticos ao cérebro humano por meio de translocação hematogênica. Um potencial local de entrada para micro e nanoplásticos no cérebro humano é a via olfativa, que envolve neurônios olfativos nasais que transmitem informações sobre odores para o sistema olfativo central do cérebro. “Os axônios olfativos passam pela placa cribriforme do osso etmoide e atingem os bulbos olfativos, que são conectados ao sistema límbico do cérebro”, detalha a pesquisadora.

Diferentes tipos

Um total de 16 partículas e fibras de polímero sintético foram identificadas em 8 dos 15 cérebros avaliados, com uma variação de 1 a 4 microplásticos por bulbos olfativos. Destes, 75% eram partículas (83,4% fragmentos e 16,6% esferas), enquanto 25% eram fibras. Nos filtros em branco do procedimento foram detectados duas fibras de algodão, duas esferas de sílica e um fragmento de silicato. Materiais poliméricos estavam ausentes tanto no filtro em branco quanto no filtro de controle negativo.

O polipropileno foi o polímero mais prevalente, seguido por poliamida, náilon e acetato de vinila de polietileno. Também foram encontrados, em menor quantidade, polietileno, poliamida perlon e lã-polipropileno. Essas partículas dos polímeros são produzidas ou processadas ​​para roupas e embalagens, como polipropileno e náilon. A pesquisadora Thais Mauad acentua que os resultados são preocupantes. “Considerando os potenciais efeitos neurotóxicos causados ​​por microplásticos no cérebro e a contaminação ambiental generalizada com plásticos, há uma preocupação em relação às doenças neurodegenerativas”, reforça.

De acordo com a cientista, tecnologias de imagem não invasivas são necessárias para superar as limitações na análise de tecidos de diferentes órgãos humanos. Ademais, podem ajudar a melhorar a compreensão dos riscos dos microplásticos à saúde. Além disso, embora a via olfativa pareça uma rota de exposição provável, não se pode descartar a possibilidade de múltiplas rotas de entrada. “Os microplásticos podem ter alcançado os bulbos olfativos por meio da circulação sistêmica ou pela via respiratória através do nervo trigêmeo”, exemplifica. O estudo ‘Microplastics in the olfactory bulb of the human brain’ foi publicado em setembro de 2024, no periódico JAMA Network.

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