A doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) é uma das principais causas de morbidade e mortalidade em todo o mundo. Nesta condição inflamatória progressiva, os músculos respiratórios apresentam redução de força e resistência. Isso ocasiona a perda de sua capacidade funcional, levando à hiperinsuflação pulmonar (aprisionamento de ar) e à dificuldade respiratória. Para investigar a relação entre a mobilidade diafragmática (DM, na sigla em inglês) e variáveis relevantes relacionadas à obstrução das vias aéreas, pesquisadores avaliaram pacientes com DPOC estável. Por meio de exames de ultrassonografia, os resultados do estudo revelaram correlações significativas com fatores de pior prognóstico, sugerindo que a avaliação da MD pode ser uma ferramenta útil na monitorização destes pacientes.
O estudo de coorte observacional avaliou a mobilidade diafragmática, essencial para a ventilação pulmonar. Um total de 49 pacientes com diagnóstico de DPOC atendidos no Ambulatório de pneumologia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) foi envolvido no estudo. A confirmação de diagnóstico foi realizada conforme os critérios da Global Initiative for Chronic Obstructive Lung Disease (GOLD), que categorizam a limitação do fluxo aéreo em estágios.
Após o preenchimento de questionário médico, foi realizada avaliação da dispneia e espirometria (exame que mede a quantidade de ar na inspiração e expiração) para confirmação do diagnóstico. Na sequência, foram realizados exames de pletismografia (teste de função pulmonar não invasiva) e ultrassonografia diafragmática.
Correlação entre variáveis de obstrução
A partir das informações coletadas foi possível investigar se havia uma correlação entre as variáveis contínuas que obstruem as vias aéreas. Essas variáveis envolviam VEF1 (base da atual classificação de gravidade da doença), hiperinsuflação pulmonar, capacidade de exercício e a gravidade da dispneia em pacientes com DPOC estável. “Os resultados sugerem que pacientes com parâmetros de DMmax TC6 (teste de caminhada de seis minutos) menor tendem a ter VEF1 reduzida, indicando obstrução mais grave e hiperinsuflação aumentada”, explicam os autores. Além disso, foi identificada uma relação entre capacidade de exercício e a mobilidade diafragmática, indicando que a excursão diafragmática (medida durante a inspiração profunda) pode servir como um biomarcador para avaliar a gravidade da doença na prática clínica.
De acordo com os autores, a mobilidade diafragmática medida ultrassonograficamente se correlaciona com diferentes parâmetros relacionados à gravidade da DPOC. “Devido ao uso generalizado do ultrassom, os dados obtidos indicam que a medida MD pode ser outra variável confiável a ser usada no monitoramento de pacientes com DPOC estável”, observam. Apesar dos resultados promissores, o estudo tem algumas limitações.
Entre eles estão a natureza de centro único com uma amostra de pacientes com doença relativamente grave, a pletismografia de corpo inteiro restrita devido à pandemia de COVID-19 e a falta de acompanhamento de longo prazo, que limita a avaliação prognóstica. O artigo ‘Ultrasonography as a way of evaluating the diaphragm muscle in patients with chronic obstructive pulmonary disease’ foi publicado em setembro de 2024 no periódico Medicine.