A doença de Machado-Joseph é um distúrbio neurodegenerativo caracterizado pela morte neuronal generalizada causada por um trato de poliglutamina expandido anormalmente na proteína ataxina-3. Essa mutação causa degeneração neuronal em diversas regiões cerebrais, sendo o cerebelo uma das mais afetadas. Os pacientes com a enfermidade apresentam graves problemas de coordenação motora, como disartria e ataxia, assim como sintomas não motores, comprometimentos cognitivos e distúrbios do sono.
Ainda não existe tratamento para a doença de Machado-Joseph e, no momento do diagnóstico, os pacientes já apresentam morte neuronal generalizada. Entretanto, o uso de célula-tronco pluripotente induzida traz novas perspectivas para os portadores da enfermidade. Pesquisas indicam que os pacientes com a doença podem ser beneficiados significativamente com terapias baseadas em células que promovem a substituição celular de neurônios perdidos e a neuroproteção através de efeitos secundários.
Recentemente, um estudo desenvolvido em Portugal testou o potencial terapêutico de células-tronco neuroepiteliais. “Células humanas derivadas de célula-tronco pluripotente induzida (induced pluripotent stem cell – iPSC) são fontes celulares muito promissoras para terapia celular”, pontuam os pesquisadores. No entanto, há necessidade de realizar estudos de longo prazo que avaliem a potência terapêutica e a segurança no cerebelo.
Devido aos elevados custos do desenvolvimento pré-clínico é necessário identificar marcadores preditivos de potência terapêutica celular que possam indicar as linhagens celulares humanas já estabelecidas que apresentam maior potencial terapêutico. “Tais marcadores reduziriam o número de linhagens celulares a serem testadas in vivo, diminuindo os custos do desenvolvimento pré-clínico”, argumentam.
Resultados promissores
Os achados demonstram que as células-tronco neuroepiteliais (Neuroepithelial stem cells – NESC) derivadas de iPSC humano após o transplante se diferenciam em novos neurônios. Além disso, mantêm os efeitos de espectador no cerebelo por seis meses. O resultado foi observado mesmo em lóbulos cerebelares distantes da zona do enxerto, indicando que uma única injeção de NESC derivado de iPSC pode impactar significativamente o cerebelo.
De acordo com os autores, este estudo fornece informações sobre o potencial terapêutico de células-tronco neuroepiteliais humanas geradas a partir de iPSC para o tratamento de doenças cerebelares. Ademais, realizaram uma extensa avaliação de potenciais mecanismos terapêuticos celulares seis meses após o transplante no cerebelo.
“Esperançosamente, isso acrescenta conhecimento ao campo da terapia celular. Ressaltamos que é necessário avaliar o impacto do NESC derivado de iPSC humano no contexto da doença cerebelar”, finalizam os autores. Além disso, é preciso avaliar se estas células podem melhorar a neuropatologia e o fenótipo motor associado a essas doenças. O artigo ‘Graft-derived neurons and bystander effects are maintained for six months after human iPSC-derived NESC transplantation in mice’s cerebella’ foi publicado no Scientific Reports em 2024.