Um artigo de revisão científica desenvolvido por pesquisadores nas áreas de Medicina e Neurociência sugere que o ser humano desenvolveu uma capacidade cerebral de estimulação por meio de recompensas, que envolve o neurotransmissor dopamina, liberado ao se realizar tarefas. Porém, quando ocorre a falta deste estímulo, ou sua busca constante, podem ocorrer diversos distúrbios de personalidade, como a depressão. De acordo com o artigo ‘Doenças do lobo frontotemporal: Dificuldades de aprendizado’, a justificativa pode estar relacionada às disfunções do comportamento humano instauradas nos meios fisiológicos dos lobos frontal e temporal do cérebro.
O cérebro humano se desenvolveu para preservar sua existência e, por um instinto de sobrevivência, regula a quantidade de neurotransmissores envolvidos em suas atividades diárias. Para os autores, quando algum objetivo é alcançado, o lobo frontal do cérebro é o responsável pela liberação de dopamina. “Entretanto, quando o resultado é o contrário do esperado, o cérebro leva a dopamina a um nível abaixo do ideal para a saúde mental, resultando em desânimo e desencorajamento para a realização de atividades rotineiras e novos afazeres”, sugerem os autores.
Os pesquisadores explicam que a neurociência tem estudado os processos cognitivos complexos que acontecem no cérebro e descobriu que a compreensão de uma nova ideia requer uma série de sistemas mentais. A percepção, que é o primeiro passo para compreender uma nova ideia; a atenção para as informações importantes; o processamento semântico, para analisar a nova ideia e conectá-la com conceitos já existentes; além de memória, raciocínio e tomada de decisão.
De acordo com o estudo, as estimulações repetitivas das sinapses (regiões entre um neurônio e outra célula por onde é transmitido o impulso nervoso) podem, em longo prazo, potencializar ou atenuar a neurotransmissão. “Tais mudanças estão associadas às alterações nos circuitos neuronais que, eventualmente, podem influenciar no comportamento, tendo a neuroplasticidade como responsável por adaptar e integrar novas informações em suas redes neuronais”, acentuam os autores.
Transtornos e comportamento humano
As regiões frontal e temporal do cérebro, responsáveis por funções executivas, desempenham um papel crucial na regulação emocional, na tomada de decisões e na interação social. Quando essas áreas estão danificadas ou atrofiadas podem causar dificuldades na identificação e expressão das próprias emoções, bem como na percepção e interpretação das emoções de terceiros. Isso pode resultar em transtornos de personalidade.
Entre os exemplos estão o transtorno de personalidade borderline, descrito pelo padrão generalizado de instabilidade e hipersensibilidade; transtorno de personalidade histriônico, com padrão generalizado de excessiva emocionalidade e busca de atenção; e o transtorno de personalidade narcisista que apresenta padrão generalizado de grandiosidade, necessidade de adulação e falta de empatia.
De acordo com a revisão, uma das doenças associadas que também afeta o lobo frontotemporal é a demência frontotemporal (DFT). A enfermidade causa atrofia nessas áreas do cérebro e pode resultar em mudanças significativas no comportamento, na personalidade e na linguagem, além de dificuldades na tomada de decisões e na interação social.
Outras doenças citadas pelos autores são a esclerose lateral amiotrófica (ELA), doença neurodegenerativa que afeta os neurônios motores; a afasia progressiva primária (APP), demência que afeta a capacidade de comunicação; assim como a degeneração corticobasal (DCB) e a atrofia do sistema límbico, ambas neurodegenerativas. O artigo de revisão foi desenvolvido pelos pesquisadores Luiz Felipe Chaves Carvalho, Velibor Kostic e Fabiano de Abreu Agrela Rodrigues, e foi publicado em 2023 na revista científica Cuadernos de Educación y Desarrollo.