Com objetivo de investigar a sobrevivência do Lactobacillus casei Shirota (LcS) no intestino de adultos chineses saudáveis, pesquisadores da Faculdade de Ciência de Alimentos e Engenharia Nutricional da Universidade Agrícola da China desenvolveram um experimento com 25 participantes. Os cientistas avaliaram, ainda, os efeitos da cepa LcS na consistência das fezes, na microbiota intestinal e nas concentrações de ácidos graxos de cadeia curta (AGCC) nas fezes. O experimento envolveu 25 adultos saudáveis, de 20 a 40 anos de idade, selecionados que ingeriram uma bebida láctea fermentada contendo 10 bilhões de LcS, uma vez por dia durante duas semanas.
Os voluntários também não tinham histórico de distúrbios gastrointestinais, a exemplo de constipação, diarreia ou dor abdominal. Treinados na Bristol Stool Form Scale (Escala de Bristol) pelos membros da equipe de estudo, os voluntários foram orientados a usar as fotos fornecidas para avaliar a consistência das fezes imediatamente após a defecação. A Escala de Bristol é um gráfico que divide as fezes em sete tipos diferentes, levando em consideração a textura e o tamanho. Os formatos vão do 1 a 7, indicando do mais difícil ao mais solto. As fezes normais estão na faixa de 3 a 4.
“Ao longo do estudo, os participantes também preencheram um diário com algumas perguntas importantes”, relatam os autores. Por exemplo, responderam sobre a ingestão do produto (no período do estudo), ingestão de outros alimentos (se houvesse), número de movimentos intestinais e alterações na consistência das fezes. Além disso, foram orientados a relatar quaisquer medicamentos tomados e quaisquer sintomas de desconforto, por exemplo, diarreia, constipação, vômitos, gases e sensação de mal-estar.
Resultados
A capacidade de sobrevivência do LcS à passagem pelo trato gastrointestinal humano dos voluntários chineses foi confirmada ao final do experimento. Assim, a análise dos principais componentes mostrou que o consumo do LcS mudou significativamente os perfis da microbiota fecal. As concentrações de ácido acético e ácido propiônico (dois dos AGCC) nas fezes foram significativamente menores durante o período de ingestão em relação ao período anterior. “Esses resultados confirmam que o LcS pode sobreviver à passagem pelo trato gastrointestinal dos chineses”, descrevem os autores.
Dessa forma, os resultados mostraram uma população estável e relativamente alta de LcS mantida nas fezes durante o período de ingestão. “Após o período de ingestão, também foi observado um aumento de Bifidobacterium e uma diminuição de Clostridia nas fezes dos voluntários. Além disso, foi observada uma diminuição na quantidade de ácido orgânico”, descrevem os autores. Nenhum efeito da bebida láctea fermentada foi observado na frequência da defecação e na natureza das fezes.
Comprovações
Em um estudo anterior, uma sobrevivência semelhante do LcS foi observada em amostras fecais colhidas de indivíduos do Reino Unido. No entanto, concentrações mais altas de LcS foram detectadas nas amostras fecais de indivíduos japoneses que ingeriram 10 vezes mais LcS do que os chineses – em outro experimento. “Essas diferentes taxas de recuperação podem estar associadas ao número de LcS e aos diferentes alimentos ingeridos pelas populações estudadas”, sugerem os autores.
No entanto, o LcS viável só foi recuperado das fezes de três dos 25 voluntários sete dias após a cessação da ingestão da bebida probiótica, indicando que a cepa LcS tem pouca capacidade de persistir no trato gastrointestinal de adultos chineses. No Reino Unido, o LcS foi recuperável das fezes de seis dos nove voluntários do estudo, sete dias após a cessação da ingestão de bebidas probióticas, indicando alguma capacidade de persistir. “Esses resultados indicam que a capacidade do LcS de colonizar o trato gastrointestinal difere entre os países”, afirmam os cientistas chineses.
Dietas interferem
Os autores informam que a dieta pode afetar indiretamente a sobrevivência dos probióticos ingeridos. Por exemplo, a ingestão de fibras aumenta a quantidade de substratos fermentáveis no cólon, mas também aumenta a taxa de trânsito e diminui o pH luminal devido ao aumento da produção de ácidos. Enquanto isso, o teor de gordura e proteína da dieta pode influenciar a excreção de bile. “Esses fatores afetam significativamente a sobrevivência dos probióticos e a taxa de esvaziamento gástrico”, descrevem. Assim, diferentes padrões alimentares em diferentes regiões e países podem levar a diferentes sobrevivências de probióticos no trato gastrointestinal humano.
Por exemplo, de acordo com alguns estudos, as dietas asiáticas são ricas em fibras alimentares e contêm de 35% a 40% menos energia do que suas contrapartes ocidentais. Portanto, a fraca persistência de LcS no trato gastrointestinal de adultos chineses pode estar associada à sua maior ingestão de fibras, que resulta em aumento da taxa de trânsito gastrointestinal. “Quando populações estáveis são recuperadas de amostras fecais apenas durante o consumo, os probióticos não colonizaram o intestino humano. Dessa forma, pelos resultados, o LcS é capaz de sobreviver, mas não de persistir no trato gastrointestinal humano chinês”, concluem.
Benefícios diversos
Certas espécies de bactérias do ácido lático, a exemplo de Lactobacillus e Bifidobacterium, são comumente usadas em produtos probióticos devido aos seus reconhecidos efeitos benéficos para a saúde. Dentre os principais benefícios estão aumento da imunidade contra infecções intestinais, modulação da microbiota intestinal, prevenção da doença diarreica, melhoria da utilização da lactose, prevenção da doença do trato gastrointestinal superior e estabilização da barreira da mucosa intestinal.
De acordo com os autores chineses, a capacidade dos probióticos de sobreviverem no trato digestivo difere entre as cepas. Em resumo, as bactérias ingeridas são expostas ao ácido gástrico – que é inimigo da sua sobrevivência – assim que atingem o estômago. O intestino delgado, especialmente as seções proximais, contém enzimas hidrolíticas e sais biliares que também são reconhecidamente letais para os microrganismos. Portanto, a passagem por esses segmentos do corpo humano afeta significativamente a sobrevivência das bactérias probióticas. O artigo ‘Survival of Lactobacillus casei strain Shirota in the intestines of healthy Chinese adults’ foi publicado em 2015 no periódico científico Microbiology and Immunology.