Caracterizada por uma intensa aversão a determinados sons, sobretudo quando emitidos repetidamente, a misofonia é uma doença geralmente associada a condutas exageradas. Nessa condição, também conhecida por Síndrome de Sensibilidade Seletiva do Som (SSSS), o desconforto auditivo alcança um grau de intensidade muito elevado. Embora a pessoa consiga reconhecer que tem algum tipo de repulsa a esses sons, que passam despercebidos para a grande maioria da população, normalmente não consegue evitar – o que faz com que a síndrome tenha semelhanças a uma fobia.
Ruídos comuns como, por exemplo, o som de mastigar, respirar, tossir ou limpar a garganta podem desencadear reações de profunda irritabilidade, fúria e, inclusive, pânico. Quem está por perto não entende tais gatilhos. “Por afetar um contingente menor da população, as pessoas que não têm essa condição costumam enxergar tais reações como exageradas e inadequadas”, observa a médica otorrinolaringologista Cristiane Adami, do Hospital Paulista.
Apesar de não ter causas totalmente esclarecidas na literatura médica, acredita-se que a misofonia ocorra em decorrência a uma hipersensibilidade entre a parte do cérebro que processa os sons e a que determina quais sons são ouvidos. Esse desarranjo resulta em uma resposta mais intensa e desconfortável. Assim, a condição transcende o campo dos distúrbios de comunicação do sistema auditivo.
“A misofonia é uma doença com mais características psiquiátricas e neurológicas. Uma vez que o indivíduo tem um sistema auditivo normal”, esclarece a especialista. Nestes pacientes, a audiometria não apresenta nenhuma alteração. Portanto, o diagnóstico é clínico, baseado na queixa do paciente. Indivíduos com misofonia geralmente podem apresentar outras condições associadas como, por exemplo, ansiedade, transtorno obsessivo-compulsivo (TOC) ou transtorno do espectro do autismo (TEA).
Intensidade e repetição
De acordo com a médica, a misofonia não está necessariamente associada à exposição a sons de alta intensidade. “Mesmo que o tipo de som cause desconforto, a doença está mais ligada aos sons de repetição”, avalia. Quem não tolera volumes elevados, como uma televisão ou os sons de alarme de carro, por exemplo, pode ter outro distúrbio chamado hiperacusia. Neste caso, diferentemente da misofonia, o exame de audiometria consegue detectar indícios dessa condição. A especialista enfatiza que qualquer pessoa pode desenvolver intolerância a sons em algum momento da vida, sobretudo se tiver um diagnóstico psiquiátrico ou neurológico associado.
Tratamento
A principal recomendação para quem sofre dessa intensa aversão a determinados sons é buscar ambientes mais silenciosos. Contudo, quando até o som da respiração de quem está perto pode ser um gatilho, uma abordagem multidisciplinar é determinante. Profissionais das áreas de Otorrinolaringologia, Psiquiatria e Psicologia são os responsáveis por fechar o diagnóstico e definir a melhor estratégia de tratamento. “Terapia cognitivo comportamental (TCC), terapia de exposição gradual, acompanhamento psiquiátrico, relaxamento, meditação e musicoterapia são algumas das opções que podem tranquilizar o sistema nervoso e aliviar os sintomas associados”, sugere a médica.
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