Hipotireoidismo no início da gravidez e os probióticos

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Hipotireoidismo, crescimento bacteriano e probióticos

Escrito por: Adenilde Bringel

O hipotireoidismo na gravidez tem efeitos profundos nos resultados maternos e infantis, especialmente no início da gestação. Como consequência, pode levar diretamente a aborto espontâneo, anemia e outras intercorrências. Em 2021, pesquisadores também descobriram que a taxa de supercrescimento bacteriano positivo do intestino delgado (SIBO, na sigla em inglês) foi significativamente  maior em gestantes com hipotireoidismo do que em controles.

O crescimento excessivo de bactérias do intestino delgado pode causar sintomas gastrointestinais que incluem desnutrição, distensão abdominal, diarreia e dor abdominal. No entanto, cientistas descobriram que uma combinação probiótica quádrupla consistindo de Bifidobacterium infantis, Lactobacillus acidophilus, Enterococcus faecalis e Bacillus cereus tinha efeitos anti-inflamatórios e poderia ajudar a reparar danos da barreira intestinal.

Para investigar essa associação e o efeito dos probióticos, cientistas chineses desenvolveram um estudo com 100 mulheres – 50 gestantes com hipotireoidismo no início da gestação e 50 gestantes sem o problema. “O objetivo foi avaliar a associação entre hipotireoidismo no início da gestação e SIBO e investigar preliminarmente o efeito dos probióticos no seu tratamento, o que se espera que seja uma nova direção na prevenção e tratamento do hipotireoidismo no início da gestação”, argumentam os autores.

Ambos os grupos foram incluídos no teste respiratório de metano-hidrogênio para comparar a incidência de SIBO, ajuste de curva suavizada e diferenças nos sintomas clínicos. Para aquelas que combinaram com SIBO, a taxa de conversão de sintomas clínicos, hormônios tireoidianos e alterações nos índices inflamatórios associados foram comparadas após 21 dias de tratamento com probióticos em adição aos comprimidos convencionais de levotiroxina sódica. 

O grupo hipotireoidismo na gestação (grupo H) foi dividido em hipotireoidismo na gestação associado ao grupo SIBO (grupo H-S) e hipotireoidismo na gestação sem SIBO (grupo H-N), de acordo com os resultados do teste respiratório metano-hidrogênio. As gestantes normais (grupo C) foram divididas em gestante normal com grupo SIBO combinado (grupo C-S) e gestante normal sem grupo SIBO combinado (grupo C-N).

Discussão

Os pacientes com SIBO são ricos em bactérias do tipo colônica, incluindo bactérias Gram-negativas aeróbias e anaeróbias que podem transformar carboidratos em gases, causando distensão abdominal. “Nosso estudo também constatou que os sintomas de distensão abdominal são mais pronunciados em pacientes grávidas com hipotireoidismo com SIBO combinada em comparação com aquelas sem SIBO combinada”, argumentam.

Dentre as possíveis razões estão a ruptura da barreira intestinal, que afeta a absorção de nutrientes no intestino, e a energia insuficiente que pode levar a uma diminuição da motilidade intestinal. Além disso, o aumento da produção de gás metano, que amplifica a atividade neuronal por vias colinérgicas, leva à dismotilidade do intestino delgado.  Hormônios tireoidianos alterados também causam diminuição da motilidade intestinal, o que, por sua vez, causa distensão abdominal.

Probióticos

Alguns estudos científicos mostraram que os probióticos podem melhorar os distúrbios da microbiota intestinal, afetando o metabolismo humano e as funções imunológicas. “Nossos achados sugerem que pacientes com hipotireoidismo no início da gestação associado ao SIBO tratadas com probióticos apresentaram maior taxa de conversão de SIBO e melhora de sintomas clínicos, como distensão abdominal”, acentuam os autores.

Uma das razões para esse fenômeno pode ser o aumento de Lactobacillus e Bifidobacterium spp. no intestino, reduzindo metabólitos adversos e a ocorrência de SIBO. Além disso, os ácidos graxos de cadeia curta (AGCC) produzidos pela fermentação probiótica podem melhorar a permeabilidade da mucosa intestinal e aumentar a frequência do peristaltismo intestinal, melhorando sintomas como distensão abdominal.

Os resultados mostraram, ainda, que a incidência de SIBO combinada em pacientes com hipotireoidismo na gravidez foi de 56% – significativamente superior aos 28% de mulheres grávidas normais durante o mesmo período. Além disso, sintomas de distensão abdominal aumentaram significativamente em ambos os grupos após SIBO combinado e a taxa de conversão após o tratamento foi de 69,2% e 75%, respectivamente.

“O hipotireoidismo no início da gravidez está associado ao SIBO, e o tratamento com probióticos é significativamente eficaz”, concluem os autores. O estudo ‘Evaluation of probiotics in the treatment of hypothyroidism in early pregnancy combined with small intestinal bacterial overgrowth’ foi publicado em 2023 na Food Science & Nutrition.

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