Pesquisadores japoneses desenvolveram um estudo observacional para avaliar o benefício potencial de uma preparação probiótica com Lactobacillus biolactis em pó (BLP) contendo a cepa Lactobacillus casei Shirota para prevenir o câncer colorretal. O objetivo foi avaliar os efeitos do tratamento de longo prazo com BLP. Assim os cientistas compararam incidência de câncer, morbidade, medicamentos concomitantes, hábito de exercício, peso e outras variáveis entre os participantes que continuaram o tratamento e aqueles que interromperam.
O estudo incluiu os participantes de um estudo clínico anterior projetado para avaliar os efeitos de biscoitos de farelo de trigo ou BLP na prevenção de tumor colorretal. Um total de 237 pacientes foi acompanhado por 7.913 dias (21,7 anos). “Embora nenhuma diferença significativa tenha sido observada, a incidência cumulativa de câncer apresentou uma taxa ligeiramente menor no grupo de extensão BLP”, afirmam os cientistas.
Ambos os grupos mostraram uma redução significativa de peso ao longo de 20 anos, embora a diminuição no grupo de extensão BLP tenha sido de apenas 1,4kg, em comparação com 2,8kg no grupo não BLP. Portanto, um tratamento em muito longo prazo com uma preparação probiótica com L. casei Shirota suprimiu a perda de peso nos idosos. “Entretanto, o mecanismo pelo qual o tratamento a longo prazo com BLP suprimiu a perda de peso permanece desconhecido”, afirmam os autores.
Hipóteses
De acordo com os autores, uma das hipóteses é que as bactérias ácido-lácticas produzem ácidos orgânicos no intestino. Assim, convertem as fibras alimentares em substâncias que podem ser utilizadas para a produção de energia, como os ácidos graxos de cadeia curta (AGCC). “Essas substâncias seriam utilizadas para produzir energia e, dessa forma, suprimir a perda de peso”, sugerem. Os autores reforçam que outros membros da microflora endógena também fermentam fibras para produzir AGCC.
Além disso, uma ligeira redução na incidência cumulativa de câncer foi observada após aproximadamente 15 anos de tratamento com BLP. Para os cientistas, como o diagnóstico clínico de câncer leva tempo até que seja feito, é compreensível que o efeito de redução do risco de câncer tenha se tornado evidente somente após o período relativamente longo de tratamento. “Muitos estudos têm sugerido o potencial do BLP para a prevenção do desenvolvimento de câncer”, enfatizam.
Riscos associados
A perda de peso observada em idosos frequentemente está associada ao aumento dos riscos para várias doenças. Além disso, está associada ao aumento do risco de fragilidade que, por sua vez, está associada à redução da qualidade de vida e a diversas morbidades. “Uma vez que se acredita que muitos idosos se tornam frágeis antes de necessitarem de cuidados de enfermagem, a prevenção da fragilidade é muito importante para a gestão da saúde dessa população”, indicam os cientistas.
De acordo com os autores, o fato de o grupo de extensão de BLP ter apresentado apenas uma leve diminuição de peso ao longo de mais de 20 anos sugere que o uso prolongado dessa preparação ajuda a manter a resistência à fragilidade. “Uma vez que os idosos também são propensos à desnutrição devido à redução do apetite, as calorias fornecidas por esses meios parecem ser uma importante fonte de nutrição”, avaliam. O estudo ‘Very long-term treatment with a lactobacillus probiotic preparation, Lactobacillus casei strain Shirota, suppresses weight loss in the elderly’ foi publicado em 2020 na revista Nutrients – doi.org/10.3390/nu12061599.
Estudo inicial
No começo da década de 1990, um ensaio duplo-cego realizado por pesquisadores de importantes instituições médicas e de pesquisa do Japão envolveu a administração de um preparado à base de L. casei Shirota (BLP) administrado oralmente. O estudo foi desenvolvido com 138 pacientes com carcinoma celular transicional superficial de bexiga seguido de ressecção transuretral, de 29 instituições de saúde do Japão, para verificar a eficácia do L. casei Shirota na prevenção de recorrência do tumor.
Ao final do estudo que avaliou o benefício potencial da preparação probiótica, os cientistas notaram uma inibição na recidiva do câncer naqueles que estavam recebendo o probiótico. A taxa de recorrência após um ano foi de 45,1% para o grupo placebo e de 20,8% para o grupo que recebeu o Lactobacillus casei Shirota. O resultado foi considerado muito bom, já que o período livre de reincidência de 50% foi significativamente prolongado com o tratamento com BLP via oral para aproximadamente 1,8 vezes mais que o do grupo controle. Com isso, os cientistas consideraram a administração oral de BLP segura e eficaz para a prevenção da reincidência de câncer superficial de bexiga.