Nos últimos anos, os cientistas têm comprovado que os distúrbios da microbiota intestinal não afetam apenas a resposta imune gastrointestinal, mas também a de outros órgãos como os pulmões. Além disso, há um consenso científico de que a correlação entre o estado da microbiota intestinal e as doenças respiratórias está clinicamente confirmada – a exemplo da doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC). Portanto, os pesquisadores acreditam que regular a microbiota intestinal com probióticos é importante para melhorar ainda mais o efeito terapêutico da DPOC.
Para comprovar a hipótese, cientistas chineses desenvolveram um estudo retrospectivo de dados clínicos coletados prospectivamente de 118 pacientes com DPOC. Os indivíduos estavam internados no Hospital Nanhua da Hengyang Medical College, afiliado da Faculdade Médica de Hengyang da Universidade do Sul da China, de janeiro de 2020 a dezembro de 2022. “Nos últimos dois anos, nosso hospital usou probióticos em combinação com budesonida e brometo de ipratrópio para tratar pacientes com DPOC”, relatam os autores.
Budesonida e brometo de ipratrópio são usados comumente para o tratamento clínico da DPOC. A budesonida é um glicocorticoide com efeitos anti-inflamatórios que pode inibir a remodelação das vias aéreas e reduzir o edema, enquanto o brometo de ipratrópio é um broncodilatador. O produto se liga competitivamente aos receptores M1 e M3 com acetilcolina para dilatar os brônquios, no entanto, o efeito anticolinérgico dura muito tempo. Com isso, pode inibir a remodelação das vias aéreas e a resposta inflamatória.
O estudo
De acordo com os registros de tratamento, 59 pacientes receberam budesonida e brometo de ipratrópio (grupo controle) e 59 receberam probióticos combinados com os dois medicamentos (grupo de observação). No grupo de observação, os probióticos Bifidobacterium e Lactobacillus foram administrados por via oral, três vezes ao dia. Ao mesmo tempo, o grupo controle recebeu budesonida em combinação com brometo de ipratrópio duas vezes ao dia. “A função pulmonar, os níveis de fatores inflamatórios, a remodelação das vias aéreas e a microbiota intestinal foram comparados antes e depois do tratamento entre os dois grupos”, ressaltam os autores.
Os cientistas avaliaram a função pulmonar FVC, MMEF, PEF e FEV1; e os indicadores de fatores inflamatórios TNF-α, IL-6 e PCT. Além disso, foram analisados indicadores de remodelação das vias aéreas MMP-9, VEGF, fator básico de crescimento de fibroblastos e NGF. Os índices da microbiota intestinal Lactobacillus, Bifidobacterium, Enterobacteriaceae e Enterococcus foram avaliados a partir de amostras de fezes frescas coletadas dos pacientes, colocadas em tubo de ensaio (esterilizado e seco), diluídas 10 vezes com tinta esterilizada e agitadas por um minuto. Após o tratamento usando o método de coloração de Gram, as colônias bacterianas foram contadas em uma placa.
Resultados
Após o tratamento, os resultados mostraram que os níveis de indicadores de função pulmonar no grupo de observação foram significativamente maiores do que aqueles no grupo controle, enquanto os níveis de indicadores de remodelação das vias aéreas foram significativamente mais baixos do que aqueles no grupo controle. Com relação à microbiota intestinal, os níveis de lactobacilos e bifidobactérias nos dois grupos aumentaram após o tratamento, em comparação com dados anteriores.
Neste caso, o grupo de observação teve um nível mais alto, enquanto os níveis de Enterobacteriaceae e Enterococcus foram mais baixos no grupo de observação do que antes do tratamento. “Baseado em budesonida e brometo de ipratrópio, o tratamento probiótico da DPOC é mais propício para reduzir o grau de reações inflamatórias, inibindo a remodelação das vias aéreas, regulando o nível da microbiota intestinal e promovendo a recuperação da função pulmonar”, afirmam os autores.
Eixo intestino-pulmão
Estudos apontam que a maioria dos pacientes com DPOC tem graus variados de distúrbio da microbiota intestinal. Isso ocorre porque as bactérias intestinais podem passar pela mucosa intestinal para atingir órgãos distantes e linfonodos mesentéricos, resultando na secreção excessiva de mediadores inflamatórios e agravando o processo da doença. De acordo com os autores, os resultados confirmam que os probióticos têm um alto valor de aplicação auxiliar durante a terapia medicamentosa de rotina para DPOC.
Dentre os benefícios desse efeito terapêutico na DPOC estão a capacidade de regular o nível de expressão de fatores inflamatórios, aliviar o grau de resposta inflamatória, inibir a remodelação das vias aéreas e corrigir o distúrbio da microbiota intestinal para melhorar a função pulmonar. O estudo ‘Probiotics combined with Budesonide and Ipratropium bromide for chronic obstructive pulmonary disease: A retrospective analysis’ foi publicado em março de 2024 na revista Medicine