Cólica infantil e a microbiota intestinal

• Probióticos

Probióticos no manejo de cólicas em bebês

Escrito por: Adenilde Bringel

De acordo com dados disponíveis no site da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), a cólica em lactentes pode ser causada por alguns fatores, a exemplo de imaturidade do sistema nervoso central, intolerância à lactose, anormalidades em hormônios gastrointestinais, alteração da motilidade e da colonização do intestino. No entanto, alguns estudos científicos também sugerem que a cólica infantil parece estar associada e precedida pela composição alterada da microbiota intestinal. Dessa forma, há algumas evidências sugerindo que a disbiose poderia estar causalmente relacionada ao desenvolvimento dessa condição.

Essas e outras evidências foram avaliadas por pesquisadores do Departamento de Pediatria e Medicina do Adolescente do Hospital Universitário de Turku, na Finlândia. Os cientistas elaboraram uma ampla revisão científica a fim de avaliar as evidências sobre a eficácia dos probióticos no tratamento de distúrbios de dor abdominal funcional pediátrica, constipação funcional e cólica infantil. “A maioria dos estudos de intervenção examinou o papel de um probiótico específico, Lactobacillus reuteri DSM 17938. No entanto, há vários estudos examinando o papel de outro Lactobacillus spp. ou a mistura de diferentes probióticos ou simbióticos para o manejo da cólica”, afirmam.

Uma recente revisão sistemática e meta-análise, por exemplo, incluiu sete ensaios clínicos randomizados (471 participantes) com baixo risco de viés. Cinco deles incluíram ensaios clínicos randomizados envolvendo 349 bebês, que avaliaram o efeito de L. reuteri DSM 17938 em doses diárias administradas por 21 ou 28 dias. “O L. reuteri foi associado ao sucesso do tratamento e a tempos de choro reduzidos no final da intervenção”, detalham. No entanto, o efeito foi visto principalmente em bebês exclusivamente amamentados.

De acordo com uma meta-análise de dados de quatro ensaios individuais envolvendo 345 bebês, o L. reuteri DSM 17938 foi eficaz no tratamento de cólicas de bebês amamentados – mas não aqueles alimentados com fórmula. “O grupo probiótico teve quase duas vezes mais chances do que o grupo placebo de experimentar o sucesso do tratamento e teve uma média de menos tempo de choro e/ou agitação do que o grupo placebo”, relatam os autores.

Aliás, a composição da microbiota intestinal de bebês amamentados e alimentados com fórmula é distinta. “Portanto, isso pode explicar a melhor eficácia da intervenção probiótica em bebês amamentados”, acrescentam. Por outro lado, a eficácia superior de L. reuteri em bebês amamentados também pode ser explicada pelos efeitos diretos de microrganismos ou oligossacarídeos no leite materno.

Mais comprovações 

Apenas um pequeno experimento examinou o papel do Lactobacillus rhamnosus GG (LGG) no tratamento de cólicas infantis em uma intervenção de 28 dias. Como resultado, um estudo com 30 bebês com cólicas – tanto amamentados quanto alimentados com fórmula – não encontrou diferença no tempo de choro diário entre os grupos probiótico ou placebo. “No entanto, é interessante notar que o estudo sugeriu que o LGG foi eficaz pelo relatório dos pais, embora não tenha sido pelo Diário do Dia do Bebê registrado prospectivamente. Essa descoberta enfatiza a importância do uso de métodos validados uniformes na medição do choro infantil”, destacam os autores.

Um outro estudo recente usou uma mistura de oito cepas bacterianas probióticas diferentes em 53 bebês com cólicas, exclusivamente amamentados. O resultado mostrou que o grupo da mistura probiótica teve menos choro por dia do que o placebo no final do período de tratamento de três semanas. “Além disso, uma taxa maior de bebês do grupo de mistura probiótica respondeu ao tratamento no final do estudo. Curiosamente, a intervenção probiótica não modificou a composição da microbiota intestinal em comparação com o placebo neste estudo”, acentuam os pesquisadores. 

Simbióticos

Até o momento da meta-análise, apenas dois estudos tinham examinado o papel dos probióticos e prebióticos na prevenção da cólica infantil como desfecho primário. Uma grande coorte com 589 bebês a termo estudou o efeito de L. reuteri 17938 ou placebo durante os primeiros 90 dias de vida na prevenção do início de cólica, refluxo gastroesofágico e constipação.

“O estudo concluiu que a administração diária de L. reuteri reduz significativamente a duração do choro diário com a idade de um mês, em comparação com o placebo, e o efeito foi sustentado aos três meses”, informam os autores. Além disso, o número de regurgitações por dia foi significativamente menor e o número de evacuações por dia foi maior em bebês que receberam L. reuteri em comparação ao placebo.

Outro ensaio controlado randomizado, desta vez com 94 bebês prematuros (idade gestacional 32-36 semanas), investigou os efeitos de L. rhamnosus GG versus galactooligossacarídeos versus placebo na prevenção de cólica infantil durante os primeiros dois meses de vida. Um total de 27 (em cada 94 bebês) foram classificados como chorões excessivos aos dois meses de idade, enquanto essa reação foi significativamente menor no grupo probiótico e prebiótico em relação ao placebo.

Em resumo, os autores afirmam que o papel das misturas de probióticos e simbióticos no tratamento do choro por cólica é promissor, mas ainda indefinido devido à variação nas cepas probióticas usadas. Portanto, mais dados são necessários antes de quaisquer conclusões. “Até o momento, o Lactobacillus reuteri DSM 17938 pode ser considerado para o manejo de bebês com cólica amamentados, enquanto os dados sobre outras cepas probióticas, misturas de probióticos ou simbióticos ainda são limitados em cólicas infantis”, detalham. O estudo ‘Probiotics on pediatric functional gastrointestinal disorders’ foi publicado em 2018 na revista Nutrients.

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