O câncer é a segunda maior causa de mortalidade no mundo. De acordo com estimativas da Organização Mundial da Saúde (OMS), houve aproximadamente 19 milhões de novos casos globalmente em 2020. Como resultado, foram registradas aproximadamente 9,96 milhões de mortes. A etiologia do câncer está associada a vários fatores, incluindo herança familiar, fatores ambientais e danos metabólicos. Entretanto, há algumas décadas uma extensa quantidade de pesquisas foi conduzida sobre bactérias cancerígenas. Assim, a importância do microbioma oral passou a ser destacado pelo risco oncogênico.
Aproximadamente 20% dos tumores têm uma conexão direta com infecções virais ou microbianas específicas. A bactéria Helicobacter pylori, por exemplo, demonstrou causar câncer de estômago, enquanto os vírus da hepatite são conhecidos por causar câncer de fígado. O vírus Epstein-Barr foi correlacionado com linfoma e carcinoma nasofaríngeo, e o papilomavírus humano é um importante gatilho para o câncer cervical. Por causa disso, pesquisadores passaram a estudar também a cavidade oral, um dos maiores ecossistemas microbianos do corpo humano.
Além de servir como ponto de entrada inicial para os sistemas respiratório e digestivo, a microbiota oral fornece um habitat para uma ampla variedade e abundância de microrganismos. Estima-se que mais de mil espécies diferentes de bactérias já foram descobertas na cavidade oral. Cáries dentárias, gengivites e outros distúrbios orais podem ser causados pela disbiose da microbiota oral. Esta flora também está conectada a outros distúrbios sistêmicos, como cirrose hepática, doença inflamatória intestinal, diabetes mellitus, artrite reumatoide e doença cardiovascular.
Relação com câncer
O avanço da tecnologia de sequenciamento de alto rendimento nas últimas décadas levou a uma maior compreensão dos componentes do microbioma oral, fornecendo uma base sólida para pesquisas extensas neste campo. De acordo com pesquisadores chineses, a microbiota oral desempenha um papel importante na saúde geral de um indivíduo.
“Foi demonstrado que a microbiota oral está significativamente correlacionada com doenças crônicas incluindo diabetes, artrite reumatoide, doença cardiovascular, doença periodontal e doença de Alzheimer”, afirmam. Além disso, a ocorrência e o desenvolvimento de tumores estão intimamente relacionados ao microbioma oral.
Bactérias específicas como Fusobacterium nucleatum, Porphyromonas gingivalis, Streptococcus, Streptomyces, Prevotella e Fibrophagy gingivalis desempenham papéis críticos no desenvolvimento do câncer. O microbioma oral tem vários mecanismos oncogênicos, incluindo inflamação bacteriana, supressão imunológica, crescimento tumoral mediado por toxinas bacterianas, atividade antiapoptótica e efeitos carcinogênicos.
Bactérias como biomarcadores
Os pesquisadores pontuam que o desenvolvimento do câncer é um processo complexo e prolongado. Por esse motivo, pesquisas adicionais são necessárias para explicar completamente a relação causal entre bactérias orais e câncer. “A pesquisa sobre a conexão entre outros microrganismos orais e diferentes tipos de câncer ainda está em seus estágios iniciais”, ponderam. Portanto, mais investigações sobre os intrincados processos pelos quais as bactérias afetam o início e a disseminação do câncer são necessárias.
No entanto, esses estudos atuais sugerem que a abundância de bactérias orais específicas do câncer pode servir como um novo biomarcador clínico. Avaliações de saúde de partes mais profundas do corpo por meio de testes orais podem levar a previsões precoces de certos tipos de câncer. “Portanto, é crucial a seleção de indicadores preditivos precisos de variações microbianas relacionadas ao câncer e técnicas precisas de detecção microbiológica”, sugerem.
O uso da detecção do microbioma oral para intervenção e tratamento precoce do câncer pode representar um avanço significativo. Uma vez que os mecanismos da carcinogênese microbiana sejam totalmente elucidados, a aplicação no tratamento será mais explorada e praticada. Ademais, com o aprofundamento da integração de abordagens multidisciplinares espera-se que a pesquisa sobre o microbioma oral desempenhe um papel fundamental na Medicina de Precisão, fornecendo soluções mais eficientes e econômicas para o gerenciamento da saúde humana.
Além disso, os microrganismos não apenas impulsionam o desenvolvimento e a progressão do câncer, mas também mediam a resistência às terapias anticâncer. “Ainda é uma área para investigação adicional se os tratamentos antimicrobianos direcionados à microbiota associada ao câncer podem ser clinicamente aplicados para melhorar a sobrevida e o prognóstico de pacientes”, finalizam. O artigo ‘Oral microbiota: the overlooked catalyst in cancer initiation and progression’ foi publicado em janeiro de 2025 no periódico Frontiers.
