A caquexia é uma condição prevalente entre pacientes com câncer, afetando de 50% a 80% daqueles com a doença avançada. A condição atinge particularmente indivíduos com câncer do trato digestivo, como o câncer gástrico. Caracterizada por fadiga, comprometimento funcional, aumento da toxicidade relacionada ao tratamento, diminuição da qualidade de vida e diminuição da sobrevida, a caquexia do câncer impacta o bem-estar do paciente significativamente e coloca um fardo substancial nos sistemas de saúde.
De acordo com pesquisadores chineses, apesar de ser responsável por aproximadamente 30% da mortalidade relacionada ao câncer, a caquexia frequentemente permanece esquecida na prática clínica. Portanto, a detecção precoce é fundamental para interromper a progressão dessa condição.
“A quimioterapia afeta a microbiota intestinal, levando a um desequilíbrio na população microbiana e a uma perda de diversidade”, relatam. Essas alterações induzidas pela quimioterapia na microbiota intestinal podem promover o desenvolvimento de caquexia por meio de uma série de mecanismos complexos, incluindo inflamação, metabolismo alterado e desregulação imunológica.
Sob a hipótese de que o microbioma intestinal poderia ser um fator-chave na caquexia do câncer gástrico induzida por quimioterapia, o grupo realizou um estudo para analisar as diferenças na microbiota intestinal de pacientes antes e depois do tratamento. O objetivo era identificar a flora bacteriana significativamente associada à caquexia induzida por quimioterapia.
Desequilíbrio da microbiota intestinal
O estudo envolveu 46 pacientes com câncer gástrico, sendo 28 com caquexia e 30 voluntários sem a doença. “Foi identificada uma combinação de gêneros preditivos de caquexia causada pela doença associada à quimioterapia após análise longitudinal da flora intestinal antes e depois da quimioterapia”, detalham. Esses gêneros identificados podem servir como alvos terapêuticos ou intervenções probióticas para mitigar esse tipo de câncer.
No geral, as descobertas do estudo sugeriram que um desequilíbrio na microbiota intestinal e os distúrbios metabólicos desempenham papéis importantes no curso da caquexia do câncer. “Além disso, também reconhecemos que o Enterotoxina Bacteroides fragilis (ETBF) intestinal aumenta a progressão da caquexia ao romper diretamente a barreira da mucosa intestinal e liberar indiretamente toxinas para recrutar células imunes infiltrantes”, pontuam os responsáveis. Portanto, o ETBF pode servir como um alvo de intervenção de caquexia no futuro.
Esses novos biomarcadores também podem ser valiosos em estudos futuros sobre o desenvolvimento de terapia personalizada visando a microbiota intestinal e o diagnóstico de caquexia causada pelo câncer gástrico. O estudo ‘Gut microbiota-driven metabolic alterations reveal the distinct pathogenicity of chemotherapy-induced cachexia in gastric cancer’ foi publicado na Elsevier em novembro de 2024.