A estomia (ou ostomia) é um procedimento cirúrgico para exteriorização e fixação da alça intestinal (ileostomia/colostomia) ou urinária (urostomia) na pele da região abdominal, criando um orifício entre órgãos internos e o meio externo para o tratamento de enfermidades ou traumas no aparelho digestório. Estima-se que, no Brasil, mais de 170 mil pessoas sejam ostomizadas em decorrência do aumento de doenças crônicas como câncer colorretal, do reto e bexiga; doenças diverticulares, inflamatórias e congênitas, entre outras. Por se tratar de um procedimento muito invasivo, há um risco importante de complicações – que podem ser evitadas ou minimizadas com cuidados no pré e pós-operatório.
Ao analisar as complicações relacionadas a estomias intestinais e urinárias, uma revisão integrativa, realizada no Departamento de Enfermagem da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (UNESP), constatou que alguns fatores de risco para problemas em estomias podem estar relacionados às características individuais do paciente, como hábitos alimentares, estilo de vida, genética e, principalmente, o fator idade, já que os mecanismos de envelhecimento influenciam o processo de cicatrização ocasionando reepitelização e angiogênese (formação de vasos sanguíneos) tardias, redução de colágeno, remodelação alterada e menor resistência à ferida, o que aumenta as chances de complicações na pele periestomal.
Outros fatores de risco estão relacionados ao procedimento cirúrgico, como ausência da demarcação do local que, quando realizada corretamente, favorece a confecção adequada da estomia e boa adaptação dos dispositivos com possibilidade do autocuidado. Além disso, morbidades como obesidade, câncer, hipertensão, diabetes, ileostomia, terapia adjuvante e doença de Crohn; e o consumo de tabaco e álcool também interferem na cicatrização de feridas devido à redução do fluxo sanguíneo cutâneo, causando alteração da hemostasia, aumento do estresse metabólico e incapacidade imunológica.
Na construção da estomia, a maioria das complicações pode ser evitada no planejamento do procedimento cirúrgico, considerando princípios fisiológicos, anatômicos e as atividades diárias do paciente. “No período transoperatório, classifica-se como complicações imediatas a má localização da estomia, inadequação do sistema coletor, irritação na pele periestomal, desconforto psicológico; agressões cirúrgicas com desequilíbrio hidroeletrolíticos e resposta inflamatória sistêmica com possibilidade de evoluir para uma insuficiência multiorgânica; e condições como hipertensão intra-abdominal, dependência de esteroides e desnutrição”, enumera a enfermeira Stella Godoy Silva e Lima, do Núcleo Hospitalar de Epidemiologia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Botucatu da UNESP, autora do estudo.
As complicações pós-urostomia são caracterizadas, principalmente em longo prazo, com maiores incidências em desvios continentes urinários cutâneos e condutos ileais, sendo mais frequentes a deterioração da função renal, disfunção miccional e complicações relacionadas a estomia, como hérnia paraestomal e estenose ureteroentérica. Nas estomias intestinais, as principais complicações precoces podem ocorrer até o sétimo dia de pós-operatório com necrose, sangramento, hemorragia, separação mucocutânea e retração, enquanto as tardias podem apresentar hérnias paraestomais, prolapsos, retrações, estenoses obstruções e dermatites irritativas.
A assistência médica é essencial nos processos clínicos, cirúrgicos e de adaptações – manejo e reparação das complicações –, com suporte clínico ao paciente até a reconstrução do sistema urinário ou trânsito intestinal, quando possível. “Apesar de esses estudos serem carentes frente às complicações psicológicas que envolvem a integralidade do paciente, de forma geral os achados desta revisão incentivam o planejamento na realização do procedimento cirúrgico e a continuidade de assistência multiprofissional ao paciente no decorrer da vida”, conclui a pesquisadora.