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Doença de Crohn

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Como a dieta modifica a doença de Crohn

Escrito por: Elessandra Asevedo

A doença de Crohn se caracteriza pela inflamação do trato gastrointestinal, afetando mais comumente o íleo terminal e o cólon. Classificada como uma doença inflamatória intestinal, seu aparecimento envolve suscetibilidade genética, resposta imune desregulada, disfunção da barreira epitelial e um microbioma intestinal alterado. A dieta é outro fator de risco epidemiológico, com uma maior quantidade de alimentos ultraprocessados ​​e gorduras animais associados ao aumento do risco de desenvolver a doença. Além disso, a alimentação também impacta na microbiota.

Vários estudos recentes analisaram cuidadosamente o impacto de uma dieta terapêutica nos sintomas clínicos da doença. Um exame paralelo do microbioma demonstrou que o consumo de certas dietas altera a abundância de bactérias, reduz os níveis de calprotectina fecal (marcador de inflamação intestinal) e pode reduzir os sintomas ou até mesmo levar à remissão.

Pesquisadores italianos estudaram a metaproteoma – coleção de proteínas em uma comunidade microbiana – de pacientes com doença de Crohn no contexto de uma intervenção de dieta controlada. De acordo com os cientistas, nenhum outro estudo de intervenção de dieta havia examinado o efeito no metaproteoma. “Nosso objetivo era avaliar como as mudanças induzidas pela dieta do metaproteoma variavam entre pacientes com doença de Crohn versus controles familiares saudáveis que seguiam a mesma dieta”, explicam.

Alimentação balanceada

Os participantes foram divididos em quatro grupos principais: três com pacientes com doença de Crohn e um de controle formado de familiares saudáveis que viviam na mesma casa. O grupo 1 recebeu apenas aconselhamento dietético único. Os grupos 2, 3 e controle receberam a intervenção dietética de curto prazo por oito semanas. Os indivíduos do grupo 3 e do grupo saudável receberam adicionalmente suporte psicossocial durante a intervenção.

As refeições fornecidas aos participantes incluía café da manhã, almoço, jantar e lanches e eram produzidas por empresas de catering que usavam ingredientes minimamente processados ​​e de alta qualidade. “Além disso, atendiam 100% das necessidades nutricionais considerando índice de massa corporal, idade, sexo e níveis de atividade física”, relatam os autores. As refeições tinham aproximadamente 20% de calorias provenientes de gordura, ácidos graxos de ômega-6 e ômega-3 e fibra.

Análise

Amostras de fezes foram coletadas no início do estudo, na semana 8 e na semana 36 e armazenadas a -80°C até o processamento. O resultado mostrou que uma intervenção alimentar induziu mudanças no microbioma intestinal de pacientes com doença de Crohn, principalmente a dieta rica em fibras e pobre em gordura. Esse achado confirma que essa dieta pode aumentar a abundância de proteínas associadas ao metabolismo de carboidratos, produção de ácido graxo de cadeia curta (AGCC) e transporte e metabolismo de íons inorgânicos.

De acordo com os autores, isso serve como prova de princípio de que a função do microbioma intestinal é responsiva a uma intervenção dietética de oito semanas. “Entretanto, estudos futuros sobre dieta devem estratificar por localização da doença de Crohn para elucidar os impactos específicos em cada subgrupo”, ressaltam.

Para os cientistas, o trabalho também enriquece o conhecimento sobre o uso da dieta como uma estratégia para melhorar a função do microbioma, mesmo diante da disbiose. “Identificamos várias características metaproteômicas basais de pacientes com doença de Crohn que diferem dos familiares que participaram”, pontuam. O artigo ‘Metaproteomics reveals diet-induced changes in gut microbiome function according to Crohn’s disease location’ foi publicado em outubro de 2024 no periódico Microbiome.

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