Nos últimos anos, aumentou a popularidade da prática de alternar períodos de jejum em janelas que podem durar 8h, 12h, 14h ou mesmo períodos de 24h. Nestes intervalos, é permitido consumir somente água, chás e cafés sem açúcar. Esta técnica é chamada de jejum intermitente e tem sido popularizada como aliada para promover a perda de peso por conta do déficit calórico. Além disso, tem sido adotada por quem deseja desintoxicar o organismo e melhorar a imunidade.
A nutricionista Cintya Bassi, coordenadora de Nutrição e Dietética do Grupo São Cristóvão Saúde, afirma que o principal benefício dessa prática é obrigar o corpo a utilizar a fonte de energia existente e excedente. “Com isso, ocorre a perda de peso, mas também ocorre a redução do apetite em médio prazo, com uma melhora da resistência à insulina e um aumento da disposição”, explica. Apesar disso, a nutricionista ressalta que a prática não é recomendada para alguns grupos.
Dessa forma, diabéticos, indivíduos com hipotireoidismo não tratado ou desnutridos, assim como para pessoas com propensão a transtornos alimentares ou gestantes, entre outros exemplos, não devem praticar jejum intermitente. “Em resumo, a prática pode ser usada para promover a perda de peso, mas deve ser indicada somente após uma consulta junto a um profissional de nutrição, para orientações individuais e seguras, estratégias iniciais e evolução”, pontua.
Início com cuidado
Assim, o mais recomendado aos iniciantes é começar fazendo uma vez por semana, por no máximo 16 horas. “Desse modo, o período pode ser aumentado gradualmente, de acordo com a adaptação do indivíduo”, ensina a nutricionista. Além de obter orientações de um médico ou nutricionista, uma sugestão para quem deseja iniciar a prática é reduzir a ingestão de carga calórica durante as refeições. Além disso, acrescentar ao cardápio alimentos que aumentem a saciedade, o que facilitará o processo de adaptação ao jejum.
Após a prática, o indicado é consumir alimentos de fácil digestão e com baixo índice glicêmico em pequenas porções, o que ajuda a preservar os resultados obtidos durante o jejum intermitente. “Em resumo, deve-se evitar alimentos fritos, processados, industrializados e preparados com muita gordura, como batata frita, sorvete, biscoito recheado ou comidas congeladas”, acentua a nutricionista.
Comprovações
Um estudo inédito no Brasil e no mundo, realizado desde 2020 pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB), expõe os efeitos positivos e negativos do jejum intermitente. Segundo informações divulgadas pela Instituição, o jejum programado, intercalado com atividades aeróbicas, promoveu uma redução na ansiedade e efeitos antidepressivos no experimento de laboratório. Contudo, também foram identificados danos em células intestinais e cerebrais. Os autores acreditam que os resultados podem subsidiar pesquisas clínicas com pessoas saudáveis e adeptas do jejum intermitente, o que traria respaldo para futuras investigações, como na intervenção de doenças como a obesidade.
Um ensaio clínico desenvolvido pelo Ambulatório de Obesidade do Centro de Recuperação e Educação Nutricional (CREN), realizado de forma aleatória com mulheres obesas, forneceu acompanhamento nutricional por 12 meses e orientações reforçadas para a prática de jejum e ajustes na dieta. Como resultado, apesar da ausência de diferenças clínicas importantes, a pesquisa destacou que a restrição diária do período alimentar é de fácil aplicação e segura. Dessa forma, auxilia no tratamento nutricional em indivíduos com excesso de peso sem a necessidade de aquisição de novos alimentos, principalmente para a população de menor poder aquisitivo.