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Estimulação transcraniana por corrente contínua

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Estimulação elétrica transcraniana no Parkinson

Escrito por: Fernanda Ortiz

A doença de Parkinson é uma patologia neurodegenerativa e progressiva que causa diversos comprometimentos motores, entre os quais a instabilidade no controle postural. Caracterizada pela dificuldade em manter o equilíbrio em determinadas situações, esse é um dos principais fatores que contribuem para o maior risco de quedas nestes pacientes. Portanto, identificar tratamentos que melhorem tais quadros é um desafio para a ciência. Recentemente, uma pesquisa conduzida por pesquisadores do Laboratório de Neurociência e Comportamento Motor (NEUROCOM-LAB) da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Estadual Paulista (Unesp), Câmpus de Presidente Prudente, constatou que oito sessões de estimulação transcraniana por corrente contínua (ETCC) podem promover melhora significativa na resposta postural à perturbação.

A estimulação transcraniana por corrente contínua é uma técnica não invasiva, indolor e sem efeitos colaterais graves, que utiliza uma corrente elétrica contínua de baixa intensidade para modular a atividade cerebral. Essa aplicação já tem sido aplicada de forma efetiva no tratamento de alguns casos de depressão e na recuperação de pessoas com desordens neurológicas. Já na doença de Parkinson, apesar de já ser empregada, segue sem um protocolo clínico definido. Recentemente, os pesquisadores da Unesp constataram que uma única sessão de ETCC anódica sobre o córtex motor promove melhora aguda da resposta postural à perturbação. Porém, essas melhoras parecem permanecer por pouco tempo. Assim, um estudo analisou a eficácia de oito sessões de tratamento anódico.

O estudo randomizado, duplo-cego e controlado por simulação (placebo) contou com 22 voluntários com a doença de Parkinson. Distribuídos aleatoriamente em estimulação ativa ou simulada (sham), todos os participantes passaram por oito sessões de ETCC. Ao modular o funcionamento dos neurônios por meio de um aparelho com dois eletrodos que geram corrente elétrica de baixa intensidade, a técnica foi aplicada sobre o córtex motor primário durante 20 minutos. Esta área está associada à resposta postural e ao controle do movimento.

As avaliações foram realizadas em uma plataforma que se movia de modo imprevisível, ou seja, provocando uma perturbação ao equilíbrio. Dessa forma, exigia resposta postural para manter a estabilidade. Os autores explicam que, ao gerar a corrente elétrica de baixa intensidade no cérebro, é possível modular a prontidão dos neurônios. “Apesar de não gerar transmissão de impulso nervoso, a estimulação transcraniana por corrente contínua modula o potencial de membrana para facilitar que aconteça”, detalham.

Resultados

As respostas posturais às perturbações externas foram avaliadas em três momentos: antes das sessões de ETCC, com 48 horas e um mês após a realização da técnica. Os resultados indicam que, logo após o término das oito sessões, o protocolo resultou em melhoras na recuperação do equilíbrio. Além disso, nas avaliações de um mês os efeitos positivos seguiram presentes e o protocolo terapêutico contribuiu para a automaticidade no controle da resposta postural. “Essa melhora da automaticidade é relevante na doença de Parkinson, pois a neurodegeneração característica da enfermidade altera a capacidade dos pacientes de realizar atividades automáticas, como as respostas posturais e o andar”, observam os autores.

Os resultados atuais estão de acordo com estudos anteriores, que mostram que múltiplas sessões de ETCC podem melhorar sinais e sintomas motores na doença de Parkinson. Assim, os autores destacam que essa é uma ferramenta clínica promissora para melhorar o equilíbrio em pacientes com uma variedade de doenças neurológicas. O artigo ‘Eight sessions of transcranial electrical stimulation for postural response in people with Parkinson’s disease: A randomized trial’ foi publicado em outubro de 2024 na revista Gait & Posture.

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