Doença de alta prevalência no mundo, a cárie pode causar danos irreversíveis aos tecidos dos órgãos dentários. De acordo com a literatura, existem diferentes fatores envolvidos no desenvolvimento do problema, dentre os quais a exposição a uma dieta com alto teor de carboidratos fermentáveis e alimentos com alta adesão ao esmalte dentário. Além disso, a patogenicidade de microrganismos no ambiente bucal, as características e a quantidade de saliva, bem como a imunidade, podem estar envolvidos com o desenvolvimento da cárie. O Streptococcus mutans (S. mutans) faz parte da placa bacteriana e é o principal patógeno associado ao aparecimento do problema.
As medidas de prevenção da cárie dentária envolvem uso de produtos comerciais, incluindo enxaguantes bucais, cremes dentais, fio dental, goma de mascar e outros auxiliares de limpeza. Entretanto, atualmente os cientistas procuram novas abordagens para a prevenção desta doença, e uma delas é o uso de probióticos. “Vários estudos clínicos têm sido realizados sobre o uso de probióticos na área odontológica, nos quais tem sido relatado que alguns microrganismos reduzem a contagem de S. mutans, bem como a prevalência de cárie”, destacam os autores do estudo ‘Probiotic action mechanisms in the inhibition of cariogenic microorganisms’.
O estudo mexicano avaliou os mecanismos de ação de bactérias probióticas, relatados em estudos in vitro, para a inibição de bactérias cariogênicas. Os autores realizaram uma revisão exploratória da literatura nas bases de dados PubMed, Scopus, Web of Science e Google Scholar de artigos publicados de 2000 a 2021, em inglês e espanhol, sobre os mecanismos dos probióticos na prevenção da cárie dentária.
De acordo com esses pesquisadores, os probióticos têm sido estudados como terapia preventiva para doenças relacionadas à periodontia e à cárie dentária. “Além disso, vem sendo postulado que poderiam ser úteis para reduzir a mucosite oral em pacientes oncológicos que receberam quimioterapia, radioterapia ou ambas as intervenções”, acentuam.
Mecanismos
Embora vários estudos in vitro tenham demonstrado que os probióticos inibem a proliferação de bactérias cariogênicas, o modo de ação ainda não está exatamente definido. No entanto, os cientistas sugerem que os mecanismos de ação dos probióticos poderiam ser devido ao fato de as bactérias probióticas modularem as defesas do hospedeiro através do sistema imune inato e adquirido. “Outra hipótese é que os ácidos graxos (como o ácido lático) são gerados por bactérias probióticas a partir da fermentação de carboidratos, e esses ácidos podem atravessar as membranas celulares bacterianas e acidificar o citoplasma, inibindo assim a proliferação bacteriana”, descrevem.
Uma outra possibilidade é a concorrência por meios ou princípio de exclusão concorrencial entre os microrganismos na cavidade oral, em que um dos concorrentes terá sempre uma vantagem sobre o outro. Isso poderia levar os microrganismos probióticos a impedir a adesão de bactérias patogênicas no ambiente bucal, por competirem pelos mesmos nutrientes, por exemplo.
Em conclusão, os pesquisadores apontam que o Lactobacillus é a cepa mais extensivamente estudada in vitro como probiótico. Assim, as evidências encontradas sobre os mecanismos de ação sugerem que podem ser úteis para a prevenção dessa doença de alta prevalência no mundo. O estudo ‘Probiotic action mechanisms in the inhibition of cariogenic microorganisms’ foi publicado em 2023 na Revista Médica Clínica Las Condes.