Caracterizada pela exaltação do positivo e tentativas frenéticas de reprimir sentimentos ou situações negativas, a positividade tóxica é um conceito contemporâneo que se relaciona com a invalidação emocional. Diferentemente de ser otimista, neste comportamento cria-se uma espécie de mecanismo de defesa e negação que impede o indivíduo de encarar e vivenciar momentos difíceis da vida. Não se trata de ver o ‘copo sempre cheio’, mas sim de exaltar alegria e repreender ou ignorar frustrações e conflitos pessoais por vezes profundos, que deveriam demandar atenção.
A positividade tóxica apresenta uma ideia equivocada de encarar a realidade, especialmente quando é difícil. Ou seja, não é permitido fracassar, pensar pequeno e se sentir culpado ou derrotado. De acordo com a psicóloga clínica e escritora Silvia Queiroz, quando o extremo da negação das adversidades incide, certamente algo está errado. “A vida é feita de situações boas e ruins, que precisam ser sentidas e vivenciadas para, de fato, serem curadas e superadas. O processo de elaboração que ressignifica a vida e permite que a pessoa encontre seus novos caminhos e continue a viver de maneira plena é extremamente necessário”, avalia.
Na medida em que se nega a dor, a fraqueza, a perda e tudo aquilo que causa frustração, os buracos emocionais começam a se fazer presentes, tornando o indivíduo mais reprimido e cada vez mais inseguro. “Usar frases prontas, dizer que tudo é perfeito, escolher apenas o que dá prazer e é bom, olhar somente o que diverte ou é belo, tudo isso é uma ilusão alienadora que desconecta as pessoas da realidade”, observa. De acordo com a psicóloga, a positividade tóxica é, portanto, um veneno, e a sociedade tem contribuído de forma catastrófica para a criação de ‘universos alternativos’ que alimentam essa ideia.
Comportamentos
Uma prática muito comum na positividade tóxica é insistir que é possível ser feliz o tempo todo. Basta sorrir, mostrar alegria, pensar nas coisas boas e praticar autocuidado como forma de acabar com a tristeza e problemas do cotidiano. A especialista comenta que isso é preocupante, pois, ao inviabilizar uma série de expressões emocionais completamente naturais, a positividade tóxica também torna o indivíduo menos empático. “Ao invés de abrir espaço para acolher e entender a dor do outro, as pessoas são repelidas porque seus problemas são apontados como ‘energias negativas’ que podem atrapalhar o ciclo de positivismo exacerbado no qual está inserido”, argumenta.
A psicóloga observa que reconhecer esse traço é importante para evitar este tipo de situação. “Para se desconectar desse positivismo tóxico é preciso aceitar que nem sempre está tudo bem, pois a vida é cheia de altos e baixos”, orienta. Para isso, recomenda-se ser sincero sobre as emoções, verbalizar sentimentos, alimentar a vida com gratidão e esperança. Além disso, quando necessário é importante buscar acompanhamento médico especializado, que ajudará o indivíduo a lidar com a positividade extrema e os conflitos associados a esse mecanismo de defesa e negação.
Alguns exemplos de como identificar
- Consolar dizendo que tudo vai certo para encerrar um assunto
- Reclamar se alguém fala sobre uma situação triste
- Justificar a infelicidade ou a falha de alguém por seu negativismo
