As doenças cardiovasculares e metabólicas afetam pessoas de todo o mundo e elevam o índice de mortalidade. Pesquisadores mostram que, dentro deste contexto, o microbioma intestinal apresenta um papel importante no controle do metabolismo e da homeostase do organismo humano. Na última década, diversos estudos indicaram que a microbiota intestinal pode influenciar a patogênese da aterosclerose e da insuficiência cardíaca por meio da modulação do eixo intestino-coração.
O desequilíbrio da microbiota intestinal, com alterações na composição e na função, acelera a progressão das doenças cardiovasculares. Afinal, é a microbiota que decompõe os alimentos ingeridos pelo hospedeiro em uma série de produtos metabolicamente ativos – incluindo N-óxido de trimetilamina (TMAO), ácidos graxos de cadeia curta (AGCC), ácidos biliares primários e secundários, triptofano e derivados de indol, fenilacetilglutamina (PAGln) e aminoácidos de cadeia ramificada (BCAA).
De acordo com a análise chinesa ‘Intestinal flora derived metabolites affect the occurrence and development of cardiovascular disease’, esses metabólitos participam da ocorrência e do desenvolvimento de enfermidades do coração por meio da ativação anormal dessas vias de sinalização, principalmente quando a integridade da barreira intestinal é quebrada.
A modulação da microbiota intestinal como mecanismo para alterar a patogênese de doenças é uma área de interesse crescente e pesquisas têm indicado a microbiota intestinal humana como um possível novo fator de risco para doenças do coração. Um estudo realizado nos Estados Unidos demonstra que a bactéria Roseburia intestinalis está inversamente correlacionada com desenvolvimento de lesão aterosclerótica em camundongos, sendo que a suplementação, em combinação com uma dieta rica em fibras, é capaz de reduzir o tamanho das placas de aterosclerose na aorta – ilustrando, assim, como as interações modificáveis entre dieta e microbiota impactam as doenças cardiovasculares.
Na revisão ‘Re-defining the Gut Heart Axis: A Systematic Review of the Literature on the Role of Gut Microbial Dysbiosis in Patients With Heart Failure’, pesquisadores mostraram que pacientes com insuficiência cardíaca também possuem alterações importantes na composição e diversidade do microbioma intestinal, implicadas em um estado inflamatório que contribuem para a doença. O estudo observou um supercrescimento de bactérias patogênicas como Escherichia, Shigella, Klebsiella, Haemophilus e Ruminococcus gnavus, enquanto Eubacterium, Blautia, Collinsella e Prevotella, com potencial anti-inflamatório, estavam reduzidas.
Segundo os autores, probióticos e prebióticos são capazes de modular a microbiota intestinal ou as atividades metabólicas e podem auxiliar na diminuição do risco das doenças cardiovasculares. Diferentes cepas de Lactobacillus foram estudadas devido ao potencial terapêutico em doenças cardiovasculares por meio da modulação do metabolismo do colesterol, resposta imune, resposta ao estresse oxidativo e de metabólitos derivados da microbiota intestinal.
Um ensaio clínico randomizado norte-americano com adultos de meia idade e idosos que consumiram Lactobacillus rhamnosus por 90 dias mostrou que os participantes mantiveram os níveis hemoglobina glicada estáveis, comprovando que o consumo de probióticos pode proteger contra alterações no controle glicêmico. “As dietas ricas em vegetais, polifenóis e fibras fermentáveis também são importantes, pois são capazes de influenciar positivamente o microbioma intestinal”, afirmam os autores