Frutas nativas brasileiras e seus subprodutos

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Efeitos das frutas nativas brasileiras na microbiota

Escrito por: Fernanda Ortiz

As doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) são a causa mais difundida de mortalidade no mundo, e estudos sugerem um papel da microbiota intestinal no desenvolvimento dessas doenças. A literatura aponta que os mecanismos da microbiota intestinal que interferem nas DCNT podem estar ligados à modulação da absorção e do equilíbrio energético, aos sistemas imunológico e endócrino, e à resposta inflamatória. Entretanto, já está demonstrado que frutas nativas brasileiras têm vários compostos bioativos, fibras solúveis e insolúveis e uma variedade de compostos fenólicos capazes de alterar esses mecanismos-chave.

A fim de comprovar os achados, pesquisadores do Departamento de Nutrição do Centro de Ciências da Saúde da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) desenvolveram um artigo de revisão científica sobre o tema. De acordo com os pesquisadores, há evidências na literatura mostrando que os impactos modulatórios de frutas nativas brasileiras e seus subprodutos na composição e atividade metabólica da microbiota intestinal podem melhorar várias repercussões clínicas associadas à DCNT. Dessa forma, reforçam a influência da microbiota intestinal nos resultados extraintestinais.

Portanto, as frutas nativas brasileiras e seus subprodutos podem ajudar a promover benefícios para a saúde intestinal e sistêmica. “Ao impulsionar alterações na composição da microbiota intestinal, esses compostos aumentam a produção de ácidos graxos de cadeia curta (AGCC) e metabólitos fenólicos distintos, melhorando a integridade intestinal e a homeostase”, acentuam os autores. Além de atividade anti-inflamatória e antioxidante, os efeitos benéficos incluem melhor sensibilidade à insulina, redução de peso corporal, manejo eficaz da dislipidemia, assim como evidências relacionadas à baixa genotoxicidade.

Muitos benefícios 

As frutas nativas analisadas no estudo – a exemplo de acerola, açaí, baru, buriti, goiaba, jabuticaba, juçara e maracujá – são fontes importantes de fibra alimentar, caracterizadas como polímeros de carboidratos comestíveis resistentes à ação das enzimas digestivas intestinais. Além disso, possuem fibras solúveis como pectina, mucilagem e goma, que podem reter água e formar gel no trato gastrointestinal, levando à ligação de íons e ácidos biliares e reduzindo, assim, a absorção de lipídios e carboidratos simples.

“A capacidade de formação de gel da fibra alimentar aumenta o volume fecal através da estimulação da microbiota intestinal e melhora o metabolismo de colesterol, lipídios e glicose, assim como o esvaziamento gástrico”, explicam os autores. Já as fibras insolúveis aumentam a motilidade e plenitude intestinal, ajudando a reduzir a ingestão de alimentos. As frutas apresentam, também, alto teor de compostos fenólicos e presença de antocianidinas (pigmentos vegetais comuns), que se destacam pelas propriedades anti-inflamatórias, antimicrobianas e antioxidantes.

Além disso, podem exercer atividade prebiótica devido à sua metabolização pela microbiota intestinal, com efeitos estimuladores seletivos nas populações bacterianas benéficas. “Devido à sua riqueza em nutrientes e compostos bioativos, os impactos modulatórios das frutas nativas brasileiras e seus subprodutos na composição e atividade metabólica da microbiota intestinal poderiam melhorar diversas repercussões clínicas”, relatam. Em resumo, seriam capazes de prevenir ou aliviar sintomas associados às DCNT, reforçando a influência da microbiota intestinal nos desfechos extraintestinais.

Novas investigações

Ao final da revisão, os autores concluíram que as frutas nativas brasileiras e seus subprodutos poderiam realmente exercer influência regulatória na composição da microbiota intestinal, resultando em efeitos favoráveis ​​na saúde intestinal e sistêmica. “Esses efeitos podem estar associados à capacidade destas frutas de reduzir a ingestão e absorção de energia, aumentar a produção de ácidos graxos de cadeia curta, melhorar a integridade intestinal e a homeostase, e reduzir o pH fecal”, completam.

No entanto, os autores enfatizam que são necessárias novas investigações para compreender os grupos microbianos específicos envolvidos na produção de metabólitos e seus resultados correspondentes no desenvolvimento das DCNT. O artigo ‘Evidence for the beneficial effects of Brazilian native fruits and their by-products on human intestinal microbiota and repercussions on non-communicable chronic diseases – A Review’, foi publicado em 2023 no periódico Foods.

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