Atletas de alto rendimento são caracterizados por seu metabolismo e fisiologia únicos em comparação a indivíduos sedentários. Ao expor seus corpos a demandas fisiológicas extremas, desencadeiam uma série de processos de adaptação incluindo funções musculares alternadas, reequilíbrio de eletrólitos e síntese de proteínas de fase aguda. Além dos já conhecidos efeitos benéficos no sistema imunológico e no metabolismo, uma pesquisa recente sugere que a intensidade da atividade física pode impactar a diversidade da composição da microbiota oral e intestinal.
Através de um estudo de coorte prospectivo, os pesquisadores avaliaram as diferenças na composição da microbiota oral e intestinal entre jogadores de futebol da liga profissional polonesa e amadores. Os jogadores amadores – 12 no total – tiveram treinamento de intensidade limitada, com dois treinos semanais com 1h30 de duração e duas partidas de futebol mensais. Já os atletas de futebol profissionais – 20 no total – treinaram todos os dias durante quatro horas e participaram de uma a duas partidas por semana. “Todos os participantes do estudo, pareados de acordo com idade, Índice de Massa Corporal (IMC) e estado de saúde, tinham idade entre 18 e 40 anos e participação ativa no treinamento em grupo”, explicam os autores.
Coleta de amostras
De acordo com os autores, para realizar as análises foram coletadas amostras de fezes e swabs orais únicas de ambos os grupos. Além disso, mais duas amostras somente dos jogadores profissionais foram coletadas em momentos distintos. Uma no meio da temporada da liga de futebol polonesa, período de maior atividade física, e ao final de quatro semanas de pausas, caracterizado por baixos níveis de atividade física e sem regimes de treinamento pré-planejados.
Achados
Os resultados sugeriram que o exercício físico de alta intensidade modificou a diversidade e composição da microbiota oral e intestinal. As espécies dominadas na microbiota intestinal dos jogadores profissionais pertencem principalmente aos gêneros Clostridiale (Eubacterium biforme, Blautia wexlerae, Ruminococcus faecis, Neglecta timonensis e Ruminococcus lactaris); Streptococcus salivarius pertencente à classe de bactérias Bacilli; Parabacteroides johnsonii (Bacteroidia) e Phascolarctobacterium faecium.
Por outro lado, a análise de amostras de microbiota intestinal coletadas durante o período de baixa atividade revelou uma maior abundância de Lactobacillales e Streptococcus – geralmente considerados benéficos com uma diminuição da abundância de Barnesiellaceae.
Durante o período de alta atividade, a composição da microbiota oral foi característica de uma maior abundância de Bacteroidetes e Neisseriaceae. Em contrapartida houve diminuição da abundância de Firmicutes, Cornyebacteriaceae e Flavobacteria. De acordo com os autores, enquanto as amostras de microbiota intestinal coletadas em dois pontos de tempo foram em grande parte comparáveis, as amostras de microbiota oral variaram significativamente. “Tais resultados indicam que a microbiota localizada em diferentes locais do corpo humano pode responder de forma diferente a intervenções específicas, como observado no aumento da atividade física”, avaliam.
Apesar de algumas limitações, os autores destacam que o estudo fornece novos insights sobre os efeitos do estilo de vida e do exercício físico de alto rendimento na composição da microbiota oral e intestinal. “Descobertas da Medicina Esportiva podem ser facilmente transferidas para a prática médica cotidiana. Portanto, entender a influência da microbiota no corpo de atletas profissionais pode permitir modificações futuras, que contribuam, entre outros fatores, para acelerar a regeneração do corpo e aumentar a resistência a doenças”, concluem. O estudo ‘The intensive physical activity causes changes in the composition of gut and oral microbiota’ foi publicado em setembro de 2024 na Scientific Reports.
