Papel importante na patogênese da hipertensão

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Alterações na microbiota intestinal em hipertensos

Escrito por: Fernanda Ortiz

O desequilíbrio da microbiota intestinal parece desempenhar papel importante na patogênese da hipertensão. De acordo com cientistas, o mecanismo que leva à hipertensão pode estar relacionado principalmente ao desequilíbrio do microbioma, que prejudica a função da barreira intestinal do hospedeiro. Dessa forma, faz com que resíduos penetrem nas artérias mesentéricas desencadeando uma resposta do sistema imunológico que estimula a produção de citocinas inflamatórias.

Os dados foram apresentados na revisão sistemática e meta-análise ‘Gut microbiota changes in patients with hypertension: A systematic review and meta-analysis’, desenvolvida na Fujian Medical University, na China. Os pesquisadores destacaram que, em comparação com pessoas saudáveis, a diversidade da microbiota foi significativamente reduzida em hipertensos. Enquanto isso, a relação dos filos Bacteroidetes e Firmicutes (F/B) – os principais filos de bactérias no trato gastrointestinal – foi aumentada em pacientes hipertensos.

Através da análise de 19 estudos, os autores relataram que o índice de Shannon – usado para medir a diversidade em dados categóricos – foi negativamente correlacionado com a hipertensão arterial, sendo parcialmente consistente com estudos anteriores. “Os resultados sugerem que, embora a diversidade da microbiota intestinal em hipertensos tenha sido, de certa forma, danificada, a riqueza foi retida como um todo”, justificam os autores. Entretanto, em outros estudos esta correlação não foi estatisticamente significativa. Portanto, isso indica que pode haver uma associação com o Índice de Massa Corporal (IMC) da população estudada, o que demanda estudos mais abrangentes que levem em consideração tais índices.

De acordo com os cientistas, o aumento da relação F/B tem sido amplamente considerado nos estudos analisados como um sinal de desequilíbrio da microbiota intestinal, estando relacionado principalmente à obesidade, diabetes e doenças cardiovasculares. “Essa relação foi consistente com os achados do nosso estudo, que indicou um aumento significativo na relação F/B em hipertensos que apresentam distúrbios na microbiota intestinal”, avaliam.

Mecanismo 

Os autores detalham que, ao promover o estresse oxidativo, a inflamação libera espécies reativas de oxigênio (EROS) e moléculas inflamatórias efetoras que podem produzir endotelina-1 (ET-1) e estimular a vasoconstrição. Dessa forma, ativam os receptores ETA e ETB2 nas células musculares lisas, promovendo o desenvolvimento da hipertensão.

Outra possibilidade são os metabólitos bioativos produzidos na microbiota intestinal, a exemplo de ácidos graxos de cadeia curta (AGCC), N-óxidos de trimetilamina (TMAO) e ácidos biliares ativarem a via do receptor acoplado à proteína G, quando absorvidos pelo epitélio intestinal, no sistema circulatório. Com isso, induzem o estresse oxidativo e reação inflamatória em vasos endotélios, prejudicando a produção e a biodisponibilidade do óxido nítrico endotelial. O resultado é uma disfunção e vasoconstrição promovendo, portanto, o desenvolvimento da hipertensão.

Prevalência microbiana

Nos estudos avaliados na meta-análise, foi observada menor prevalência relativa do gênero Faecalibacterium (bactéria comensal da microbiota intestinal) na população hipertensa. “Sabe-se que essa bactéria produz AGCC, que podem ajudar a manter a saúde intestinal e desempenhar um papel importante na produção de anti-inflamatórios metabólitos”, acentuam.

Portanto, quando o gênero Faecalibacterium não está abundante pode ocorrer uma redução na produção de AGCC, promovendo o desenvolvimento da hipertensão arterial. Assim sendo, os autores concluem que a microbiota intestinal desempenha um papel importante na patogênese da hipertensão. O artigo foi publicado em 2023 na livraria online Wiley.

 

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