O termo flora intestinal evoluiu nas últimas décadas ganhando conceitos mais precisos, como microbiota ou microbioma. Isso foi possível devido ao desenvolvimento de ferramentas genéticas com tecnologias modernas de disponibilidade ampla e de baixo custo. Além disso, há um amplo reconhecimento da complexidade e abundância de microrganismos que residem em simbiose no corpo humano. Assim, vários pesquisadores se dedicam a descrever as populações microbianas em grande escala. Um exemplo é a conexão do microbioma intestinal e o desenvolvimento humano, cuja relação ocorre nas diferentes fases da vida – desde o período intrauterino até a maturidade.
O artigo de revisão ‘Fundamentos de la microbiota y el microbioma. Avances en investigación sobre el microbioma intestinal humano’ mostra que existem relações entre inflamação e microbioma, câncer e as espécies da microbiota, assim como metabólitos bacterianos e ausência de depressão. Desenvolvido por pesquisadores colombianos, o artigo também afirma que ainda faltam evidências para determinar se essa relação é a causa ou o efeito dessas condições de saúde e doença.
Na última década, também foram publicadas descobertas que descrevem o desenvolvimento do sistema imunológico humano ainda no útero materno. “Entre os exemplos estão as pesquisas que mostram o surgimento de tolerância aos antígenos, tanto maternos quanto próprios, durante o desenvolvimento fetal”, sinalizam os autores. Ademais, as observações indicam que esse desenvolvimento da tolerância imunológica fetal transcende a idade adulta.
A revisão científica pontua, ainda, uma pesquisa que elucidou a presença de microbiomas em órgãos e tecidos humanos considerados estéreis, a exemplo de pulmões e sangue. “A presença de microrganismos também foi detectada no leite humano, e alguns pesquisadores sustentam que existe um microbioma formal neste fluido biológico”, afirmam os cientistas.
Mecanismos
Três mecanismos principais foram propostos para explicar a origem da microbiota do leite materno. A primeira sugere que as bactérias da cavidade oral do bebê são transferidas em contracorrente durante a amamentação, enquanto um segundo mecanismo se daria pela colonização da microbiota da pele adquirida através do mamilo.
E, por último, a justificativa para a presença de anaeróbios estritos no leite humano – que normalmente habitam o intestino humano – se dá pela translocação bacteriana. Assim, esses microrganismos passariam do intestino materno para a glândula mamária pela via enteromamária, que envolve a internalização e o transporte de bactérias do trato gastrointestinal por células dendríticas utilizando a circulação linfática.
Amamentação
Os autores informam, ainda, que embora alguns componentes do microbioma fetal sejam conferidos no útero e por meio da amamentação, as espécies que persistem no cólon ao longo do tempo parecem ser influenciadas por vários fatores, a exemplo do estilo de vida da família. Ademais, é possível que o estabelecimento do microbioma gastrointestinal humano inicial possa influenciar ou determinar a saúde do hospedeiro em longo prazo.
Devido a uma potencial influência que a microbiota possa ter na saúde para o resto da vida, a colonização inicial (quantitativa e qualitativa) é de particular interesse para os pesquisadores. Em síntese, o microbioma adulto é mais diversificado em países onde a cultura tradicional ou ancestral domina em comparação com os países industrializados, nos quais as espécies permanecem com menor variabilidade pelo resto da vida adulta.