Nos últimos anos, tem aumentado significativamente o uso de psicofármacos por crianças e adolescentes para tratar problemas de saúde mental, como ansiedade, depressão e transtornos de aprendizado. Embora o acesso a tratamentos seja fundamental e necessário, especialistas se preocupam com a epidemia de diagnósticos, com as causas que levam a esses quadros e, principalmente, com os potenciais riscos e efeitos colaterais associados ao uso desses medicamentos nesta fase da vida.
Assim como acontece com os adultos, crianças e adolescentes desenvolvem condições de saúde mental que podem desencadear problemas que afetam o neurodesenvolvimento e as relações socioafetivas. Inúmeros fatores podem levar a alterações psíquicas nestas faixas etárias. “Isso pode ocorrer em decorrência de alterações hormonais e estruturas cerebrais ou de fatores como bullying, maus-tratos domésticos, violência psicológica, mudança de escola e término de relacionamento dos pais, entre outros”, enumera a psicóloga Angelita Traldi, docente e coordenadora do curso de Psicologia da Faculdade Anhanguera, em São Paulo.
Ainda que exista certa resistência em relação a diagnósticos de transtornos mentais nesta fase, a especialista orienta que pais, cuidadores e professores precisam estar alertas a comportamentos incomuns e à instabilidade emocional durante o processo de desenvolvimento. Ao apresentarem sinais e sintomas (veja abaixo) indicativos de que algo não está bem, é fundamental buscar uma avaliação de médico especializado para diagnóstico, assim como a terapêutica adequada a cada caso.
De acordo com a psicóloga, diagnosticar problemas de saúde mental, especialmente em criança é um desafio. “Isso ocorre tanto por causa da dificuldade da criança em identificar e nominar emoções quanto pela sobreposição de sintomas com outras condições, a exemplo do Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH)”, descreve. Para evitar diagnósticos equivocados, a criança ou o adolescente deve passar por uma anamnese profunda e avaliação multiprofissional antes de qualquer prescrição medicamentosa.
Precauções
A medicalização infantil envolve o uso de psicotrópicos, entre eles os antidepressivos e ansiolíticos, ou seja, agentes químicos que atuam sobre o sistema nervoso central. Com a função de alterar determinados processos mentais, resultam em modificações na percepção, consciência, conduta e no comportamento. Em muitos casos, o uso de psicofármacos é indispensável. Entretanto, a psicóloga alerta que devem ser usados com cautela e sempre sob orientação de um médico psiquiatra.
Com a prescrição dos psicotrópicos, pais, cuidadores e o médico responsável devem monitorar os efeitos colaterais e a eficácia do tratamento de forma cuidadosa. “Com doses iniciais baixas, é preciso avaliar a relação risco-benefício no decorrer do tratamento”, orienta. No surgimento de respostas adversas, deve-se considerar a substituição por outro medicamento.
Efeitos colaterais
Os efeitos colaterais mais frequentemente relacionados a esses medicamentos são apatia, irritabilidade, ganho ou perda de peso, embotamento cognitivo e afetivo, sonolência, insônia, alucinações e, em alguns casos, pensamentos suicidas. Na grande maioria dos casos, a medicalização é adotada como a primeira opção de tratamento, enquanto terapias não medicamentosas ou integrativas, a exemplo de psicoterapia, são subutilizadas.
Para a psicóloga Angelita Traldi, a medicalização infantil deve ser considerada com extrema cautela. “A busca por abordagens terapêuticas não medicamentosas e um diagnóstico preciso são passos essenciais para garantir que as crianças recebam o tratamento adequado e evitem riscos associados à medicalização precoce”, analisa. Por causa disso, além de estarem bem-informados sobre as opções de tratamento disponíveis, pais e cuidadores devem trabalhar conjuntamente com as crianças e os adolescentes para apoiá-los e ajudá-los a desenvolver habilidades emocionais com foco no bem-estar mental.
Atenção aos sinais!
- Quadros de tristeza excessivamente prolongados
- Desânimo em qualquer atividade da rotina
- Agressividade
- Isolamento social
- Alteração de sono, humor e apetite
- Déficit de atenção
- Dificuldades de aprendizagem e de concentração