A perda de audição faz parte do processo degenerativo relacionado ao envelhecimento. Com o avanço da idade, principalmente a partir da quinta ou sexta década de vida, o mesmo ocorre com as alterações de visão e com a redução de massa muscular. Componentes genéticos e fatores de risco específicos, como diabetes, hipertensão, tabagismo e uso excessivo de álcool, podem acelerar o processo de perda auditiva. Entretanto, as causas mais recorrentes estão relacionadas à exposição ao ruído ao longo da vida. Para evitar que o problema se agrave, o acompanhamento ajuda a prevenir o risco de surdez permanente.
De acordo com a Associação Brasileira de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cérvico-Facial (ABORL-CCF), um indivíduo demora cerca de sete anos para procurar um especialista após perceber algum dano à audição. Além disso, leva mais dois anos para escolher um tratamento. “Esse descuido pode conduzir à surdez definitiva, além de levar ao isolamento social”, avalia o otorrinolaringologista e foniatra Gilberto Ferlin, do Hospital Paulista de Otorrinolaringologia e da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP).
Os sinais de surdez costumam partir de situações cotidianas. Assim, é preciso investigar, por exemplo, quando o idoso aumenta muito o volume da TV, solicita que repitam as frases recorrentemente, não responde a chamados e apresenta dificuldade em conversar ao telefone ou em ambientes com ruído competitivo. Ademais, a falta de uma boa compreensão das palavras que ouve, a dificuldade em conseguir manter conversas simples e a elevação do som da própria voz são sinais importantes.
Além da avaliação clínica, o paciente também deve fazer o exame de audiometria. Essa avaliação identifica o tipo e o grau da perda auditiva e permite um diagnóstico mais assertivo. “A audiometria é realizada em cabine acústica, na qual o paciente ouvirá tipos e intensidades diferentes de sons emitidos em diversas frequências a fim de avaliar o grau da perda”, detalha o médico Gilberto Ferlin.
Neste exame, é possível detectar perdas auditivas ainda em seu estágio inicial, possibilitando intervenção precoce a fim de melhorar a qualidade de vida para aqueles que já apresentam algum grau de deficiência. Assim, se a perda auditiva for leve não será necessário o uso do aparelho auditivo, enquanto nos quadros moderados a graves haverá indicação do equipamento, dependendo das necessidades de cada paciente. Dessa forma, o acompanhamento vai ajudar a prevenir o risco de surdez definitiva ou suas consequências.
Prevenção
Todo o processo de reabilitação auditiva deve ser avaliado periodicamente a partir dos 60 anos. Afinal, a perda da audição na terceira idade pode gerar angústia, assim como a dificuldade de comunicação e percepção pode levar o idoso ao isolamento. “Cuidar da audição é cuidar das memórias e das relações afetivas dos idosos, que são determinantes para manter o propósito de vida e garantir sua autonomia e independência. Para isso, é preciso fortalecer o autocuidado e o controle das doenças metabólicas, assim como evitar locais com ruídos extremos prevenindo, portanto, os fatores de risco”, orienta o médico. Para evitar que o desconforto aumente, a família e/ou cuidadores devem ficar atentos. Além disso, devem acompanhar os idosos nos atendimentos médicos regulares, assegurando que o tratamento esteja de acordo com as necessidades individuais. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), no Brasil há 28 milhões de indivíduos com algum grau de surdez (14% da população), com maior incidência em idosos.