A prematuridade é um sério problema de saúde global, sendo descrita como uma epidemia que afeta países desenvolvidos e em desenvolvimento. Apesar dos avanços na assistência perinatal, os recém-nascidos prematuros podem desenvolver morbidades que, em alguns casos, vão persistir na idade adulta. Entre os exemplos estão deficiências e incapacidades neurológicas, cardiovasculares, respiratórias, auditivas e visuais. Com base na constatação que a prematuridade está associada à redução da função autonômica cardíaca, pesquisadores brasileiros investigaram a variabilidade da frequência cardíaca (VFC) em crianças em idade escolar.
O trabalho teve a participação de 123 crianças de 5 a 10 anos nascidas com prematuridade moderada e tardia (MLPT) e crianças nascidas a termo, com idade gestacional entre 37 e 42 semanas. O objetivo foi identificar se a imaturidade autonômica em bebês prematuros persistia na idade escolar. Uma evidência recente mostra que bebês prematuros moderados apresentam frequência cardíaca mais alta e menor variabilidade de frequência cardíaca em comparação com aqueles nascidos a termo. Isso ocorre desde os primeiros dias de vida até 39-40 semanas após o nascimento prematuro.
O achado sugere que esses bebês também apresentam maturação parassimpática reduzida e capacidade diminuída de lidar com as adversidades da vida extrauterina – semelhante a bebês com maior prematuridade. “É possível que a função pulmonar e a variabilidade da frequência cardíaca persistam alteradas ao longo da infância, comprometendo o desempenho do sistema cardiorrespiratório e tornando-os mais vulneráveis às morbidades diversas, com impacto na qualidade de vida”, explica a pesquisadora Fabianne Dantas, doutora em Saúde da Criança e do Adolescente. E uma das autoras do estudo.
Avaliação das crianças
Os voluntários foram submetidos à avaliação da função pulmonar por meio da oscilometria de impulso e espirometria. Ao mesmo tempo, a variabilidade da frequência cardíaca foi medida por meio de registro eletrocardiográfico de curta duração (15 minutos). O estudo não encontrou diferenças na variabilidade da frequência cardíaca entre crianças em idade escolar nascidas com prematuridade moderada e tardia ou aquelas nascidas a termo.
“Os resultados sugerem que a plasticidade da modulação autonômica cardíaca continua a ocorrer em crianças até a idade escolar, ou que há menor comprometimento do sistema autonômico na prematuridade moderada e tardia”, afirma a pesquisadora. Apesar de não ter sido encontrada diferença estatisticamente significativa entre os grupos em relação às funções pulmonar e autonômica, os dados indicam que essas crianças apresentam comprometimento da função pulmonar periférica e do controle autonômico cardiovascular. Além disso, têm maior vulnerabilidade às influências do meio, o que pode predispor a morbidades cardiorrespiratórias futuras.
Recomendação
Sendo assim, recomenda-se a inclusão de avaliações periódicas da função pulmonar e da VFC nos programas de acompanhamento da saúde das crianças em idade escolar. A meta é identificar precocemente aquelas com alterações funcionais e fatores de risco para doenças cardiorrespiratórias e, assim, direcionar as ações de prevenção e controle desses fatores. O estudo transversal ’Heart rate variability in school-age children born moderate-to-late preterm’ foi realizado na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e publicado em fevereiro de 2024 na revista acadêmica Early Human Development, da Editora Elsevier – doi.org/10.1016/j.earlhumdev.2023.105922.