A prática de atividade física é essencial em todas as fases da vida. Em crianças e adolescentes, proporciona benefícios como o desenvolvimento de habilidades motoras fundamentais, cognitivas, controle de peso e melhora da saúde física e emocional. Por influenciar aspectos importantes, colocar o corpo em movimento é um hábito que deve ser cultivado desde a infância. Apesar dos benefícios, um estudo conduzido por pesquisadores da Escola de Educação Física e Esporte da Universidade de São Paulo (EEFE-USP) apontou que o desenvolvimento inadequado das habilidades motoras fundamentais (por exemplo, correr, saltar, chutar uma bola) pode ser um dos motivos que afastam crianças da prática de atividade física.
O estudo teve por objetivo investigar a associação entre o desempenho de habilidades motoras fundamentais (FMS) das crianças e o tempo que dedicam à prática de atividade física moderada a vigorosa. Para chegar aos resultados, os pesquisadores utilizaram dados do Projeto REACT – Retorno à escola após a pandemia de Covid-19: o que famílias, professores de Educação Física e comunidades precisam saber sobre o crescimento, desenvolvimento motor e comportamentos de saúde das crianças. O levantamento, obtido entre janeiro de 2022 e junho de 2022, foi realizado em parceria com a Universidade do Porto, em Portugal.
O projeto REACT examinou o desenvolvimento motor de 1.014 crianças, de 6 a 10 anos, selecionadas em escolas primárias da cidade portuguesa de Matosinhos. “As habilidades motoras fundamentais consideradas para a análise do estudo foram relativas a controle de objetos, ou seja, arremessar, chutar, driblar, receber/agarrar e rolar a bola”, descrevem os autores. As avaliações foram registradas por meio da plataforma digital Meu EducAtivo, desenvolvida pelo professor Fernando Garbeloto da EEFE-USP, um dos responsáveis pelo estudo. No aplicativo, é possível classificar a performance dos alunos em cada habilidade por meio de três níveis de desempenho: alpinista explorador (iniciante), alpinista aventureiro (intermediário) e alpinista perito (avançado).
Achados
A principal descoberta foi que, durante as atividades semanais, as crianças do grupo 1 – que dominaram entre 4 e 5 FMS – eram, em média, fisicamente mais ativas do que as do grupo 2 (com domínio de 2 e 3 FMS) e do grupo 3 (domínio máximo de 1 FMS), independentemente de idade e gênero. “Isso pode ocorrer pois, à medida que as crianças se tornam mais proficientes, ficam mais confiantes, levando a uma melhor percepção da competência motora”, observam os autores. Além disso, o maior repertório motor combinado com a confiança as encoraja a participar mais intensamente em várias atividades físicas, a exemplo de esportes e jogos.
Os resultados para fins de semana, quando as crianças têm maiores possibilidades de escolha para serem fisicamente ativas, foram semelhantes aos encontrados durante os dias de semana (efeitos da idade, gênero e agrupamento FMS). No entanto, nos fins de semana, enquanto os meninos do grupo 1, independentemente da idade, passaram em média mais de 60 minutos por dia em atividade física moderada a vigorosa, apenas as meninas de 6 e 7 anos do grupo 1 (melhor desempenho) e as meninas de 7 anos do grupo 2 (desempenho intermediário) alcançaram os 60 minutos diários recomendados pela OMS. “Esses resultados sugerem uma influência clara de gênero e idade nos níveis de atividade física aos finais de semana”, sugere o pesquisador.
Por conclusão, os resultados destacam a importância de promover a proficiência adequada em FMS durante os anos do ensino fundamental como uma estratégia potencial para incentivar as crianças a serem fisicamente ativas ao longo da vida. “Dessa forma, projetar e implementar programas educacionais bem estruturados fortalecerá o papel das FMS no desenvolvimento motor e cognitivo bem equilibrado e sustentável, promovendo, inclusive, autoconfiança, saúde e bem-estar geral”, finalizam. O artigo ‘Is there an association between proficiency in fundamental movement skills and moderate-to-vigorous physical activity in childhood on weekdays and weekends? The REACT project’ foi publicado em abril de 2024 no American Journal of Human Biology.