Definida como uma dificuldade na evacuação, a constipação é caracterizada por uma frequência reduzida de defecação e afeta aproximadamente 15% das pessoas no mundo. Evidências sugerem que os metabólitos intestinais relacionados a bactérias possivelmente tenham um papel importante na constipação. Embora os benefícios dos probióticos para aliviar a constipação sejam amplamente aceitos, cientistas chineses desenvolveram um estudo clínico com Lactobacillus casei Shirota (LcS) em pacientes constipados para esclarecer os mecanismos envolvendo esses metabólitos intestinais.
Vários estudos já sugeriram que alterações nos ácidos graxos de cadeia curta (AGCC) e metabólitos putrefativos no intestino podem estar relacionadas ao movimento intestinal e à constipação. Esses metabólitos intestinais são produzidos principalmente a partir da fermentação de carboidratos no cólon e são necessários para manter a saúde deste segmento do intestino. Outros estudos também demonstraram que bactérias intestinais foram consideradas as reguladoras desses metabólitos.
Bactérias da microbiota intestinal comensal, incluindo Ruminococcus e Faecalibacterium, são os principais produtores de butirato no intestino – um dos AGCC. Já os probióticos como Bifidobacterium longum SP 07/3, Bifidobacterium bifidum MF 20/5, Lactobacillus acidophilus CRL 1014 e Lactobacillus rhamnosus GG (LGG) também demonstraram gerar AGCC.
O estudo
Assim, 16 pacientes constipados e 22 participantes não constipados, com idades entre 18 e 55 anos, foram recrutados e consumiram 100ml de uma bebida com LcS por dia, durante 28 dias. O ensaio aberto incluiu um período de referência de duas semanas e um período de ingestão de quatro semanas. Durante o período de ingestão após o almoço diário, todos os indivíduos consumiram um frasco (100mL) de bebida láctea fermentada comercial contendo LcS vivas, obtidas no mercado.
Para não ter viés, o uso de laxantes, antibióticos, medicamentos ou outros tipos de produtos lácteos fermentados não foi permitido durante o estudo. Amostras fecais foram coletadas no início e no fim do experimento para análise da microbiota intestinal. Além disso, os participantes registraram a frequência de defecação, consistência de fezes (de acordo com a Bristol Stool Form Scale) e pontuação de sintomas relacionados à constipação em um diário. O número de minutos gastos no banheiro por tentativa de evacuar também foi avaliado.
Os metabólitos fecais não voláteis foram determinados por um sistema de cromatografia gasosa, e os metabólitos-alvo foram posteriormente verificados em um modelo de camundongo constipado. Resumidamente, os potenciais metabólitos relacionados à constipação foram obtidos com base nas diferenças significativas na abundância entre os grupos de constipação e não constipação no dia 0. “Assim, os metabólitos que mudaram significativamente em pacientes constipados entre D28 e D0 foram considerados metabólitos regulados por LcS”, explicam os cientistas.
Achados
A intervenção de LcS em pacientes constipados melhorou significativamente a frequência de defecação, a consistência das fezes e os sintomas relacionados à constipação. Um total de 14 metabólitos fecais não voláteis foram obtidos como potenciais metabólitos relacionados à constipação regulados por LcS. Entre esses metabólitos, o ácido pipecolínico (PIPA) – que é um metabólito não volátil no intestino – teve uma correlação positiva significativa com a frequência de defecação em pacientes constipados.
“O PIPA foi um mediador metabólico no intestino que participou do alívio da constipação induzida por LcS”, informam os autores. As análises estatísticas mostraram, ainda, que 108 metabólitos foram enriquecidos enquanto 150 foram reduzidos em indivíduos constipados em comparação com aqueles no grupo sem constipação. Além disso, após a intervenção do LcS, 110 metabólitos diminuíram e 148 aumentaram no grupo da constipação.
Conclusão
De acordo com os autores, a cepa Lactobacillus casei Shirota aumentou a frequência de defecação, normalizou a consistência das fezes e melhorou os sintomas relacionados à constipação em adultos chineses. Através do uso de abordagens metabolômicas, o PIPA foi identificado como um potencial mediador- alvo no alívio da constipação mediada por LcS que poderia melhorar os sintomas. Entretanto, mais estudos devem verificar a função anticonstipação do PIPA e elucidar seus potenciais mecanismos. O artigo ‘Lactobacillus casei strain Shirota alleviates constipation in adults by increasing the pipecolinic acid level in the gut’ foi publicado em 2019 na Frontiers in Microbiology.