Probióticos tem efeito benéfico no intestino

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Alterações no intestino delgado após ingestão de LcS

Escrito por: Adenilde Bringel

Os probióticos demonstraram ter efeitos benéficos quando atingem os intestinos em estado viável em inúmeros estudos, com benefício à saúde do hospedeiro. No entanto, ainda não está totalmente claro o que acontece no trato gastrointestinal entre a ingestão de probióticos e a excreção nas fezes, assim como não se sabe exatamente como essas cepas exercem efeitos fisiológicos. Para esclarecer a dúvida, cientistas do Instituto Central Yakult desenvolveram um estudo para investigar as alterações que ocorrem no intestino delgado após a ingestão de um leite fermentado contendo os probióticos Lactobacillus casei Shirota (LcS) e Bifidobacterium breve cepa Yakult (BbrY) – dois produtos lácteos fermentados disponíveis comercialmente – que foram chamados de grupo LFM e grupo BFM, respectivamente.

Neste experimento, os pesquisadores se concentraram em esclarecer o tempo das cepas ingeridas para passar pelo trato digestivo; se uma única cepa ingerida se torna dominante dentro do trato digestivo sob coexistência com várias espécies microbianas residentes e se a proporção de uma cepa ingerida mantém a atividade metabólica e a capacidade de crescer (ou seja, capacidade de formação de colônias) após atingir o cólon. Além disso, avaliaram se há uma correlação negativa entre a taxa de viabilidade das cepas ingeridas e a concentração de ácidos biliares. Assim, 11 ensaios foram realizados em três grupos de teste: ingestão única de LFM para o primeiro teste (4 participantes A, B, C e E); ingestão única de BFM (4participantes D, E, F e G) para o segundo teste; e ingestão simultânea de LFM e BFM (3participantes B, C e E) para o terceiro teste.

O intervalo do ensaio para os participantes que participaram de mais de um teste (B, C e E) foi definido como mais de quatro meses. No dia anterior a cada ensaio, todos os participantes coletaram 0,5g de amostra fecal. Os fluidos orais foram coletados no momento do despertar no dia do teste para cinco testes: ingestão única de LFM (participante E), ingestão única de BFM (participantes E, F e G) e ingestão simultânea de LFM e BFM (participante E). Os participantes foram instruídos a gargarejar 2 a 3 vezes com 20ml de solução salina e expectorar o fluido oral em um tubo de amostra.

Durante o experimento, os fluidos ileais foram coletados de todos os participantes por perfusão de fluido do intestino delgado usando a técnica de inserção intestinal retrógrada endoscópica (ERBI) – uma ferramenta poderosa que permite coletar fluidos de perfusão ileal periodicamente. A técnica consiste em um tubo de duplo lúmen, com um balão oclusivo, que é inserido através do cólon e colocado no íleo terminal. “Isso torna possível coletar os fluidos ileais ao longo do tempo sob condições fisiológicas sem afetar a secreção de suco gástrico e bile”, afirmam os autores. Esta técnica tem sido usada para análises da dinâmica e do metabolismo de polissacarídeos indigeríveis, como amido resistente e rafinose, e de fibras alimentares, como pectina e celulose.

Recuperação

O tempo de trânsito intestinal e as contagens bacterianas totais das cepas ingeridas foram investigados. Assim, a soma de células viáveis e mortas de LcS, BbrY ou ambas em cada amostra de fluido ileal, coletada em diferentes pontos de tempo, foi contada usando uma técnica de anticorpo fluorescente. Então, a taxa de recuperação das cepas probióticas ingeridas ao longo do tempo dentro do íleo terminal foi calculada. De acordo com os autores, as cepas ingeridas começaram a aumentar dentro do íleo terminal cerca de duas horas após a ingestão de leite fermentado contendo LcS (LFM), BbrY (BFM) ou ambos. Cada cepa aumentou com o tempo e atingiu um pico cerca de quatro após a ingestão.

“Esses resultados indicam que os probióticos chegam ao íleo terminal dentro de horas após a ingestão. Quando LFM e BFM foram ingeridos simultaneamente, as taxas de recuperação de LcS e BbrY transitaram da mesma maneira”, destacam. O marcador não absorvível polietilenoglicol (PEG) foi ingerido ao mesmo tempo em que o leite fermentado em todos os casos, e fez a transição com um tempo semelhante ao das cepas bacterianas em todos os ensaios. O DNA foi extraído dos fluidos ileais coletados e a composição da microbiota foi analisada usando o perfil do gene 16S rRNA. 

Benefícios

No experimento, a composição bacteriana do íleo terminal mostrou claramente que LcS e BbrY ingeridos ocuparam a microbiota ileal por várias horas, representando temporariamente mais de 90% da microbiota ileal em vários indivíduos. Por outro lado, os principais membros indígenas do microbioma intestinal, como Bacteroidaceae e Lachnospiraceae, diminuíram relativamente. “Relatórios anteriores indicaram que o LcS é transportado por células M no epitélio associado ao folículo. Ao ser reconhecido por macrófagos e células dendríticas nas placas de Peyer, induz a produção de interleucina (IL)-12 e aumento de células Th1”, descrevem. As células Th1 promovem a imunidade mediada por células via células T citotóxicas e macrófagos e, portanto, estão particularmente envolvidas na defesa contra patógenos intracelulares.

De acordo com os autores, os resultados indicam que há oportunidade adequada para os probióticos ingeridos estimularem continuamente as células hospedeiras no intestino delgado. “Nossos dados sugerem que a ingestão de leite fermentado probiótico afeta os microrganismos intestinais e o hospedeiro, explicando parte do processo desde a ingestão de probióticos até o exercício de seus efeitos benéficos”, detalham. Como a microbiota intestinal é ocupada por LcS ingerido por um período, há oportunidade adequada para a cepa ingerida estimular continuamente as células imunológicas, células nervosas e células da glia no trato gastrointestinal superior.

O estudo também revelou que, à medida que os probióticos ingeridos atingem o íleo terminal, não apenas LcS, mas também a abundância de Streptococcaceae aumentou relativamente. As cepas de Streptococcaceae isoladas dos fluidos orais antes da ingestão de leite fermentado e os fluidos ileais coletados após a ingestão foram identificadas como monofiléticas. O dado revela que as cepas de Streptococcaceae que vivem na cavidade oral alcançaram o íleo terminal em associação com o leite fermentado ingerido sem perder sua capacidade de formação de colônias. “Acreditamos que esta descoberta é importante para elucidar os mecanismos dos efeitos fisiológicos dos probióticos”, acentuam os autores.

Comportamento

De acordo com os cientistas, as descobertas indicam como é o comportamento de cepas e ingredientes probióticos no trato intestinal após a ingestão de produtos probióticos. Com isso, esperam que seja um passo a mais para entender a importância da ingestão de probióticos. “Em conclusão, este estudo mostrou claramente que os probióticos ingeridos ocuparão a microbiota ileal por várias horas”, resumem. O estudo ‘Dynamic analysis of human small intestinal microbiota after an ingestion of fermented milk by small-intestinal fluid perfusion using an endoscopic retrograde bowel insertion technique’ foi publicado em 2020 no periódico Gut Microbes – doi: 10.1080/19490976.2020.1766942.

Definições

Probióticos, que incluem bactérias do ácido láctico e bifidobactérias, têm sido comercializados como leite fermentado, comprimidos, biscoitos e chocolates. A Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) e a Organização Mundial da Saúde (OMS) definiram probióticos como ‘microrganismos vivos que, quando administrados em quantidades adequadas, conferem um benefício à saúde do hospedeiro’. O Instituto Internacional de Ciências da Vida (The International Life Science Institute) tem uma definição semelhante para probiótico: ‘um ingrediente alimentar microbiano vivo que, quando ingerido em quantidades suficientes, confere benefícios à saúde do consumidor’.

 

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