Os avanços na engenharia de biomateriais permitem a construção de tecidos miméticos humanos in vitro cada vez mais semelhantes para avaliações de eficácia e segurança de produtos consumíveis. Entre as tecnologias mais promissoras para esse tipo de produção está a bioimpressão 3D. Isso é devido às vantagens em automação, escalabilidade e possibilidade de realizar uma pré-deposição espacial de biomateriais para obter modelos de pele artificial mais representativos, confiáveis, seguros e reprodutíveis, em substituição aos modelos in vivo em testes de medicamentos e cosméticos.
Recentemente, o estudo ‘Bioprinted and manual human epidermis production: A compared performance for skin irritation tests’, conduzido por pesquisadores da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade de São Paulo (FCF-USP), comparou o desempenho da bioimpressão 3D com o modelo tradicional produzido manualmente. O trabalho publicado na revista Bioprinting confirmou a equivalência da performance, destacando que esse tipo de produção pode ser uma resposta aos principais desafios biomédicos da atualidade como, por exemplo, o desenvolvimento de medicamentos, modelação de tecidos/órgãos e medicina de precisão.
A tecnologia foi utilizada para verificar o desempenho de uma epiderme humana reconstruída por bioimpressão para avaliação in vitro de irritação cutânea por produtos tópicos consumíveis. No teste de irritação da pele, a epiderme bioimpressa distinguiu os produtos químicos de referência pelo valor limite de 50% de viabilidade, da mesma forma que o modelo epidérmico previamente validado. “A transferência da metodologia manual para a tecnologia bioimpressa estabeleceu grandes modelos epidérmicos para avaliar a citotoxicidade de produtos químicos irritantes, pois ambos apresentaram morfologia correspondente, avaliação da função de barreira e testes de irritação”, descreve a pesquisadora Julia de Toledo Bagatin, doutoranda no Departamento de Análises Clínicas e Toxicológicas da FCF-USP e primeira autora do estudo.
Resultados
Os resultados mostraram uma resposta inflamatória significativamente maior para a metodologia bioimpressa, mesmo após a exposição a substâncias não irritativas – achado anteriormente não publicado. “Portanto, embora o modelo epidérmico bioimpresso esteja qualificado para ser usado como plataforma para o teste de irritação in vitro, a bioimpressão por extrusão que utiliza agulhas cilíndricas pode exacerbar indiretamente a resposta inflamatória”, sinalizam. Em conclusão, os autores acreditam, que a tecnologia de bioimpressão pode contribuir para a automação de metodologias conhecidas para reconstrução de modelos epidérmicos, fornecendo assistência significativa para as indústrias cosmética e farmacêutica realizarem testes in vitro confiáveis para avaliações de segurança de produtos tópicos consumíveis.