Os probióticos conferem benefícios à saúde quando administrados em quantidades adequadas. Dentre os probióticos mais estudados está o Lacticaseibacillus paracasei YIT 9029 (estirpe Shirota, anteriormente Lactobacillus casei Shirota – LcS). Estudos têm mostrado que o LcS protege contra a infecção do trato respiratório superior, induz imunomodulação, reduz o risco de câncer, alivia o estresse e melhora a qualidade do sono. Além disso, vários estudos clínicos demonstraram que o consumo diário de leite fermentado contendo LcS proporciona um bom equilíbrio da microbiota e melhora o ambiente intestinal e os hábitos de defecação, inclusive com melhora da constipação e de fezes soltas.
Ao mesmo tempo, as isoflavonas da soja e seus metabólitos exercem efeitos benéficos em relação à prevenção do câncer de mama e próstata e melhora das condições da pele, de sintomas da menopausa e de osteoporose. A rafinose e a estaquiose, que são oligossacarídeos do leite de soja, chegam ao intestino sem serem submetidas à digestão e funcionam como prebióticos. Por isso, cientistas do Instituto Central Yakult, em Tóquio, investigaram os efeitos do consumo diário de leite de soja fermentado contendo LcS (FSM). O estudo randomizado, duplo-cego e controlado por placebo envolveu 112 adultos japoneses saudáveis com baixa contagem de bifidobactérias fecais.
Recentemente, muitos estudos têm relatado associações entre a microbiota intestinal e vários distúrbios, incluindo obesidade, diabetes, câncer colorretal, doença inflamatória intestinal e até mesmo transtornos mentais. Em geral, indivíduos com esses distúrbios têm níveis mais baixos de bactérias produtoras de ácidos graxos de cadeia curta (AGCC) na microbiota intestinal. Esses AGCC, como acetato, propionato e butirato, são produzidos principalmente pela fermentação de carboidratos no cólon e desempenham papéis importantes na manutenção da homeostase intestinal.
Por exemplo, os AGCC funcionam como fonte de energia para células do cólon, suprimem a colonização por bactérias patogênicas, previnem doenças infecciosas, fortalecem a barreira da mucosa intestinal, modulam a função imune e aumentam a atividade anti-inflamatória. Portanto, equilibrar a microbiota e promover um bom ambiente intestinal por meio do aumento de AGCC, assim como uma diminuição de produtos putrefativos, são considerados importantes para manter a saúde e prevenir doenças.
Detalhes do estudo
Os participantes consumiram 100ml de FSM ou placebo (à base de leite de soja não fermentada) uma vez ao dia, durante quatro semanas. A microbiota intestinal foi analisada pelo sequenciamento de amplicons do gene 16S rRNA e reação em cadeia da polimerase de transcrição reversa quantitativa (PCR). Ao mesmo tempo, ácidos graxos de cadeia curta fecal e produtos putrefativos urinários foram avaliados durante os períodos pré e pós-consumo. Os hábitos de defecação foram examinados semanalmente usando um questionário subjetivo.
Para examinar com precisão os efeitos da FSM na microbiota intestinal e no ambiente intestinal foram realizadas análises de subgrupos nos grupos leite de soja (SM) e leite de soja fermentado contendo LcS (FSM). Essas análises mostraram que apenas o grupo FSM teve aumentos significativos no número e na abundância relativa de Bifidobacterium nas fezes durante o período de consumo, e que essas mudanças foram maiores no grupo que ingeriu o leite de soja com LcS. Essas análises também revelaram que apenas o grupo FSM mostrou aumentos nas concentrações fecais de acetato e AGCC totais durante o período de consumo.
Conclusões
A abundância relativa de Bifidobacterium, a alfa-diversidade da microbiota e as concentrações de acetato e AGCC totais nas fezes aumentaram significativamente no grupo FSM, embora não tenham sido detectadas diferenças significativas entre os grupos. O número e os dias de defecação semanais também aumentaram significativamente em ambos os grupos. “Os achados mostraram que tanto o grupo FSM quanto o SM tiveram aumentos significativos no número de Bifidobacterium, indicando que os oligossacarídeos de soja contribuíram para o aumento de Bifidobacterium no grupo placebo”, sugerem os autores.
A análise do subgrupo de 109 indivíduos – três foram excluídos – revelou que o grupo FSM teve aumentos significativamente maiores na concentração de acetato fecal em comparação com o grupo SM. Além disso, houve regulação significativa das vias relacionadas à produção de energia ou metabolismo da glicose na microbiota intestinal. “Essas descobertas sugerem que o consumo diário de FSM melhora o ambiente intestinal e a microbiota de adultos saudáveis e pode ajudar a manter a saúde e prevenir doenças”, afirmam os autores. O artigo ‘Effects of fermented soymilk with Lacticaseibacillus paracasei YIT 9029 on gut microbiota and defecation habits: a randomised, double-blind, placebo-controlled study’ foi publicado em 2024 no periódico Beneficial Microbes.