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Probióticos no controle de Staphylococcus aureus

Escrito por: Adenilde Bringel

O Staphylococcus aureus é um patógeno humano que pode causar várias infecções graves e, muitas vezes, fatais. Nos Estados Unidos, por exemplo, essa bactéria mata mais pessoas do que qualquer outro patógeno resistente a antibióticos. Apesar disso, o tratamento é complicado justamente pelo fato de a bactéria ter uma resistência generalizada aos antibióticos. Assim, como as infecções por S. aureus geralmente se originam da colonização assintomática, a descolonização tem sido frequentemente sugerida para reduzir a prevalência de infecções. E uma das formas de descolonizar pode ser com uso de probióticos.

A fim de comprovar a tese, cientistas tailandeses e norte-americanos desenvolveram um estudo de centro único, fase 2, duplo-cego, randomizado, controlado por placebo. A ideia era avaliar se o Bacillus subtilis poderia diminuir a colonização de S. aureus em humanos. Dessa forma, seria possível superar os problemas relacionados aos esforços tópicos de descolonização e ao uso de antibióticos. “Nosso estudo apresenta uma estratégia para a colonização de S. aureus que é segura, sem danos à microbiota existente e eficaz”, garantem os autores.

Assim, os cientistas selecionaram uma fórmula probiótica com a cepa B. subtilis MB40 disponível comercialmente. “As moléculas ativas em B. subtilis  inibem o sistema de detecção de S. aureus que descobrimos ser essencial para a colonização intestinal”, afirmam os autores. Para confirmar a pureza microbiológica da fórmula imediatamente antes do início da intervenção, foi verificada a ausência de microrganismos contaminantes por triagem de contaminação bacteriana.

A estratégia 

O estudo envolveu adultos da região de Songkhla, na Tailândia. Entre janeiro e abril de 2021, 611 participantes foram inscritos e rastreados para colonização intestinal e nasal de S. aureus e Bacillus spp. Os participantes eram adultos (com idade ≥18 anos) sem histórico de doença intestinal, tratamento com antibióticos ou internação hospitalar nos 90 dias anteriores. Assim, 115 (19%) participantes foram colonizados por S. aureus, apenas no intestino (n=65), apenas no nariz (n=31) ou em ambos os locais (n=19).

Após a randomização, 55 participantes (30 com colônias apenas no intestino, 13 com colônias apenas no nariz e 12 com colônias em ambos os locais) foram designados para o grupo de tratamento. Ao mesmo tempo, 60 participantes (35 com colônias apenas no intestino, 18 com colônias apenas no nariz e 7 com colônias em ambos os locais) foram designados para o grupo de controle. 

Os participantes receberam probiótico ou placebo, que eram indistinguíveis em aparência e textura, em sacos médicos com zíper selados e não transparentes. As bolsas foram codificadas por números por um assistente de pesquisa e entregues aos participantes por outro assistente de pesquisa que não tinha informações sobre a alocação do grupo ou o conteúdo. “Os assistentes de pesquisa que geraram a sequência, inscreveram os participantes e os designaram para o estudo não tiveram nenhum envolvimento nas análises do ensaio”, relatam os autores. 

Resumidamente, os participantes do grupo de intervenção receberam uma cápsula preenchida com 250mg de esporos de cepa B. subtilis, previamente testados quanto à segurança e efeitos probióticos gerais na saúde gastrointestinal. Os participantes do grupo placebo receberam o mesmo tipo de cápsula com 250mg de maltodextrina (Chemipan, Bangkok, Tailândia). Todos ingeriram uma dose uma vez por dia, por 30 dias. O desfecho primário foi a colonização por S. aureus no intestino (por contagem fecal) e nas narinas (por cotonetes nasais) após intervenção de 30 dias de probiótico B. subtilis.

Descobertas 

Os resultados mostraram que o probiótico B. subtilis eliminou mais de 95% do total de S. aureus, colonizando o organismo sem alterar a microbiota. De acordo com os autores, essa estratégia probiótica oferece várias vantagens importantes sobre as estratégias de descolonização desse patógeno resistente a antibióticos usadas atualmente. Assim, poderia ter um uso potencial em pessoas com risco crônico ou de longo prazo de infecção por S. aureus.

“Além disso, ao estabelecer um papel definidor do local de colonização intestinal, nossas descobertas querem revisitar noções fundamentais sobre a colonização de S. aureus”, ressaltam os autores. O artigo ‘Probiotic for pathogen-specific Staphylococcus aureus decolonisation in Thailand: a phase 2, double-blind, randomised, placebo-controlled trial’ foi publicado em 2023 no periódico The Lancet Microbes.

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