As hepatites virais são um grave problema de saúde pública em todo o mundo. Caracterizadas por infecções que atingem o fígado, as hepatites virais podem causar alterações leves, moderadas ou graves. Segundo dados recentes do Boletim Epidemiológico de hepatites virais do Ministério da Saúde, entre 2001 e 2023 foram notificados 785.571 diagnósticos positivos no Brasil. Entre as mais incidentes no País estão os tipos A, B e C. A ausência de manifestações clínicas nos estágios iniciais dificulta o diagnóstico precoce, o que pode resultar em sérios danos ao fígado e à saúde em geral. Para evitar tais quadros, a adoção de medidas preventivas é fundamental.
As hepatites virais são causadas por diferentes vírus, sendo os mais comuns os do tipo A, B, C, D e E. Por serem assintomáticas na maioria dos casos, grande parte das pessoas desconhece ter a infecção. Isso faz com que a doença evolua por muitos anos sem o devido diagnóstico. “Alguns tipos podem se tornar crônicos, especialmente B e C, levando a danos progressivos no fígado ao longo do tempo, o que aumenta o risco de cirrose, insuficiência hepática aguda e câncer hepático”, comenta o médico hepatologista Renato Hidalgo, do Hospital Evangélico de Sorocaba (HES).
Os sintomas das hepatites virais variam de acordo com o tipo de vírus, idade e quadro clínico individual. Os pacientes podem apresentar sintomas leves como fadiga, febre, perda de apetite, náusea, vômitos e icterícia (coloração amarelada da pele e dos olhos). “Além disso, quadros mais graves com dores abdominais, fraqueza intensa e até coma podem ocorrer”, exemplifica o especialista.
Dessa forma, qualquer sintoma que lembre uma infecção pelo vírus deve ser investigado por meio de avaliação médica detalhada e coleta de sangue para pesquisa. Fechado o diagnóstico, o médico poderá orientar o tratamento indicado para cada tipo específico da doença. “Cada tipo de vírus possui características distintas em relação à transmissão, gravidade, evolução e tratamento”, descreve o médico.
Medidas de prevenção
As medidas de prevenção variam conforme o tipo de hepatite. Para as hepatites A e E, cuja transmissão ocorre pelo consumo de água ou alimentos contaminados, recomenda-se a prática de hábitos saudáveis. “Higiene das mãos e alimentos, uso de água limpa e evitar o compartilhamento de copos e garrafas são medidas que podem reduzir o risco de contaminação”, orienta o médico. Para as hepatites B, C e D, transmitidas pelo contato com sangue contaminado, é indicado evitar o uso compartilhado de agulhas e seringas, utilizar preservativos nas relações sexuais e ter cuidado com o compartilhamento de materiais em barbearias (lâminas e barbeadores) e salões de beleza (alicates e cortadores de unha), por exemplo.
Hepatite A – Transmitida principalmente através do consumo de água ou de alimentos contaminados, a hepatite A é geralmente aguda e autolimitada, durando algumas semanas e com menor risco ao paciente. “Apesar de apresentar muitos sintomas, não se torna uma doença crônica. Após o tratamento, o paciente estará curado”, afirma o médico. A vacinação, disponível no calendário vacinal do Ministério da Saúde, é uma medida eficaz de prevenção.
Hepatite B – Pode ser transmitida pelo contato com sangue contaminado, uso compartilhado de agulhas, relação sexual desprotegida ou de mãe para filho durante o parto. Apresenta poucos ou nenhum sintoma inicial, dificultando o diagnóstico precoce. A vacinação também é uma forma de prevenção. “Diferentemente da hepatite A, a do tipo B pode se manter no organismo durante toda a vida, causando inflamação no fígado se não tratada”, detalha o médico.
Hepatite C – Transmissível através do contato com sangue contaminado, o surgimento de sintomas é raro. Habitualmente, a hepatite C é descoberta em sua fase crônica, após teste rápido de rotina ou por doação de sangue. O tratamento, ofertado gratuitamente pelo SUS, envolve medicamentos capazes de curar a infecção e impedir a progressão da doença. “Não há vacina disponível para esse tipo de hepatite, portanto, os contatos preventivos são essenciais”, destaca o especialista.
Hepatite D – Mais comum no norte do Brasil e em outros países, a infecção pelo vírus D ocorre por coinfecção simultânea com o tipo B. “Quando se torna crônica, é considerada a forma mais grave de hepatite viral, com progressão mais rápida para cirrose e um risco aumentado para descompensação, carcinoma hepatocelular e morte”, descreve o médico. As formas de transmissão são similares às do tipo B.
Hepatite E – Transmitida principalmente através da água contaminada, a hepatite E é comum em áreas com más condições de saneamento. Geralmente é uma doença aguda, podendo ser mais grave em mulheres grávidas.