O envelhecimento populacional global aumentou a ocorrência e a prevalência de doenças neurodegenerativas. Assim, mais de 50 milhões de pessoas no mundo são afetadas pela demência, que deve triplicar nas próximas décadas. Embora esteja ligado à degeneração inevitável das capacidades físicas e cognitivas, um estudo realizado pelo Centro de Referência em Envelhecimento e Movimento da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (CREM-UFRGS) demonstrou que avaliações funcionais simples podem ajudar a detectar sinais de comprometimento cognitivo. Dessa forma, possibilita a prevenção de doenças neurodegenerativas e, consequentemente, o envelhecimento saudável.
Com o objetivo de examinar os determinantes físicos e psicológicos do envelhecimento populacional em relação ao desempenho cognitivo, o estudo analisou 221 idosos da região sul. Os participantes foram recrutados a partir do banco de dados do CREM e do programa da Escola de Educação Física, Fisioterapia e Dança da UFRGS. “O desempenho cognitivo foi associado aos determinantes físicos do envelhecimento”, descrevem os autores. Como exemplo estão força muscular, mobilidade funcional e aptidão cardiorrespiratória. Além disso, foram incluídos fatores psicológicos como domínios de autonomia e ambiente na qualidade de vida, bem como atividades cotidianas diárias.
Revisões sistemáticas analisadas mostraram uma associação entre menor força de preensão (força dos membros superiores) e função cognitiva reduzida ao longo do tempo. De acordo com os autores, essa descoberta sugere que a força pode estar ligada a múltiplos aspectos da função cognitiva, proporcionando uma vida mais longa para aqueles que experimentam maiores níveis de força.
Além disso, os pesquisadores identificaram uma associação entre mobilidade funcional e comprometimento cognitivo, identificadas por pontuações mais baixas no teste TUG. Este teste avalia a mobilidade funcional, cujo desempenho está relacionado com equilíbrio, controle postural, marcha e capacidade funcional do idoso, podendo indicar seu grau de fragilidade.
“Do ponto de vista clínico, os resultados também sugerem que sentar e se levantar cinco vezes, levantar e andar cronometrado e caminhar por seis minutos podem ajudar a distinguir indivíduos com comprometimento cognitivo”, comentam os autores. No entanto, é importante destacar que os resultados não devem ser generalizados para todas as populações mais velhas, considerando as diferenças culturais e sociais que influenciam o desempenho cognitivo e os determinantes físicos do envelhecimento.
Qualidade de vida
De acordo com o estudo, o comprometimento cognitivo também aparece relacionado aos domínios de autonomia e qualidade de vida, particularmente nos estágios iniciais do declínio cognitivo. “Precisar de cuidados, ser dependente de atividades cotidianas, sentir dor e solidão foram associados à redução da qualidade de vida”, observam os autores. Outras pesquisas que investigam a relação entre qualidade de vida, nível de dependência e funcionamento cognitivo demonstram, inclusive, que em adultos mais velhos que residem em suas próprias casas o nível de dependência serve como um preditor significativo para os domínios físico e ambiental da qualidade de vida.
Os autores concluem que os resultados podem contribuir para a identificação de comprometimento cognitivo. “As principais implicações dos nossos achados podem ser traduzidas para a prática clínica, oferecendo aos profissionais da saúde a oportunidade de identificar e abordar questões frequentemente negligenciadas em relação aos determinantes físicos e psicológicos do envelhecimento”, finalizam. O artigo ‘Observational evidence of the association between physical and psychological determinants of aging with cognition in older adults’ foi publicado em maio de 2024 no periódico Scientific Reports.