Uma das preocupações em relação ao uso da ventilação mecânica protetora é o risco do acúmulo de dióxido de carbono (CO2) no sangue, gerando a acidose respiratória. Por causa disso, o Instituto do Coração (InCor) vinculado à Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) acaba de incorporar uma nova tecnologia para remoção de CO2 em pacientes sob ventilação mecânica. A estratégia de proteção pulmonar é indicada para casos de hipercapnia – aumento do gás carbônico no sangue arterial que pode ser provocada por uma hipoventilação alveolar.
A remoção de CO2 em pacientes (ECCO2R) foi feita com o dispositivo Prismalung+ combinado com a terapia de substituição renal contínua (CRRT, do inglês Continuous Renal Replacement Therapy). Segundo o médico pneumologista Carlos Roberto Ribeiro de Carvalho, diretor da Divisão de Pneumologia do InCor e responsável pela UTI respiratória onde o procedimento foi realizado, esta foi a primeira vez que a terapia foi realizada em um hospital nas Américas.
O trabalho de remoção de CO2 em pacientes envolve profissionais da Divisão de Pneumologia e da área de Nefrologia do InCor, formada por médicos e enfermeiros especializados. “Este tipo de terapia demanda conhecimento e base técnica de ponta para que seja aplicada no tratamento intensivo de pacientes”, ressalta.
De acordo com o diretor, o uso desta técnica foi possível graças à modernização do parque tecnológico de equipamentos para diálise com o que há de melhor em nível mundial. A médica nefrologista Maristela Carvalho da Costa, coordenadora da Nefrologia do InCor, acrescenta que este processo trará mais segurança aos procedimentos em pacientes críticos que necessitam de suportes renal e respiratório.
Mais inovação
Outro diferencial no procedimento é o uso da anticoagulação regional com citrato, uma substância segura que pode ser alternativa à heparina nos casos em que há riscos ao paciente. O tema entrará em estudo por grupo coordenado pelo neurocirurgião Marcelo Amato, supervisor da UTI respiratória, com o objetivo de desenvolver um protocolo de anticoagulação do circuito de diálise com remoção de CO2 em pacientes.
O trabalho visa mostrar que o uso de citrato durante a diálise de um paciente com quadro respiratório grave poderá auxiliar na proteção pulmonar. Assim, evitará o risco de acúmulo de CO2 no organismo e poupará os pulmões. “Estamos em busca de desenvolver novas tecnologias para a UTI”, afirma o médico. Os especialistas ressaltam que o tratamento de pacientes internados em UTI com problemas pulmonares ou cardiológicos também inclui cuidados com os rins, devido à relação entre esses órgãos.
“Se os rins não estão funcionando adequadamente, o coração e os pulmões poderão ser impactados. E o mesmo vale para quando pulmões ou coração estão comprometidos”, ensina a médica Maristela Carvalho da Costa. Por causa desse efeito cascata, o tratamento intensivo dos pacientes engloba estratégias protetoras para minimizar os impactos nesses órgãos, melhorando o quadro geral e a qualidade de vida para o período pós-internação.