Tratamento adequado do diabetes

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Tratamento do diabetes pode reduzir amputações

Escrito por: Fernanda Ortiz

O índice de amputações de pés e pernas em decorrência do diabetes atingiu níveis preocupantes nos últimos anos no Brasil. O País chegou à marca de 282 mil amputações de membros inferiores realizadas pelo Sistema Único de Saúde (SUS) entre janeiro de 2012 e maio de 2023. A maior prevalência foi observada em 2022, quando houve cerca de 31 mil procedimentos, o equivalente a uma média de 85 amputações por dia. De acordo com dados da Sociedade Brasileira de Angiologia e de Cirurgia Vascular (SBACV), mais da metade dos casos envolve pacientes com diabetes.

Assim, a entidade destaca a necessidade urgente de abordagens mais eficazes para o tratamento da doença. “Mais do que a perda pessoal e dos reflexos na saúde emocional e qualidade de vida, o impacto das amputações no SUS é significativo, consumindo recursos substanciais”, destaca o cirurgião do aparelho digestivo Antônio Carlos Valezi, presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica (SBCBM). O desconhecimento do estado de saúde também faz com que muitos pacientes cheguem ao consultório com complicações avançadas. Por causa disso, reduzem drasticamente as possibilidades terapêuticas e, em muitos casos, chegam a desfechos dramáticos como a amputação.

De acordo com o médico, que também é professor associado do Departamento de Cirurgia da Universidade Estadual de Londrina (UEL), o problema poderia ser evitado se houvesse um acompanhamento adequado da doença. “Para isso, é preciso ampliar as ações de prevenção, o acesso a medicamentos e a inclusão de novas abordagens cirúrgicas e terapêuticas”, reforça. Dessa forma, seria possível contribuir para a adesão dos pacientes ao tratamento e garantir o adequado enfrentamento da doença.

Inovações

Entre as abordagens inovadoras para o tratamento do diabetes está a cirurgia metabólica, especialmente para pacientes que não respondem aos medicamentos. A técnica é regulamentada pelo Conselho Federal de Medicina (CFM) desde 2017. “Com o procedimento é possível melhorar os quadros de diabetes mellitus tipo 2 e da síndrome metabólica, reduzindo as chances de complicações”, acentua o cirurgião. De acordo com dados da literatura, a cirurgia apresenta inclusive resultados interessantes para o controle do peso, da glicemia e das doenças microvasculares. Dessa forma, caracteriza-se como uma importante opção terapêutica para reduzir riscos de complicações, amputações e óbitos.

A cirurgia metabólica é destinada a pacientes com diabetes mellitus tipo 2 há menos de 10 anos. Além disso, devem ter IMC entre 30 kg/m² e 34,9 kg/m² e indicação cirúrgica aprovada por dois médicos especialistas em Endocrinologia. Ademais, os pacientes precisam ter parecer médico que indique resistência ao tratamento clínico com antidiabéticos orais ou injetáveis, e nas mudanças no estilo de vida. “Apesar dos benefícios, atualmente a cirurgia metabólica não está disponível no SUS ou no rol de procedimentos cobertos pelos planos de saúde”, lamenta o cirurgião.

Incidência

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), o Brasil é o quinto em incidência de diabetes no mundo. O País tem 16,8 milhões de doentes adultos (20 a 79 anos), ficando atrás apenas de China, Índia, Estados Unidos e Paquistão. Dados da Sociedade Brasileira de Diabetes apontam que cerca de 90% dos diabéticos brasileiros são do tipo 2. O diabetes tipo 2 ocorre quando o organismo desenvolve resistência aos efeitos da insulina e pode ter causas hereditárias ou ligadas a hábitos de vida. Outro problema é que mais de 46% da população brasileira pode ser portadora da doença, embora desconheça o diagnóstico.

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